Texto de Tópicos Frasais-Chave com Elementos Relacionadores a Partir do Filme “Central do Brasil”

14/03/2013 20:28

BERNSTEIN, Marcos; CARNEIRO, João E. Central do Brasil (Dir. Walter Salles). Drama. Brasil: 1h13min, Europa Filmes, 1998.

 

 

            Central do Brasil é um espaço que retrata a diversidade brasileira. Ele enfatiza, principalmente, as baixas condições de vida em um bairro de pobreza, com a presença da miséria em decorrência do êxodo rural, a relevância do tráfico e o roubo, expresso como uma forma de tentativa para sobreviver, o desemprego e os métodos de exploração social. Questões essas, que estão presente significativamente nas classes sociais de baixo nível financeiro e também “cultural” (de determinada forma), limitando-se – tão-somente – àquilo que é de costume, comum ou já instituído.

 

            Dora e Irene são amigas, mas são pessoas com características distintas. Dora não se preocupa com a sua responsabilidade em relação ao escrever as cartas, e enviá-las devida e apropriadamente. Enquanto isso, Irene busca dar ênfase ao respeito ao ser humano, valorizando-o ao invés de tratá-lo como produto a ser comercializado, algo que Dora buscou realizar com naturalidade e com o uso da ‘esperteza’, bem como o rasgar das cartas, em prol de uma causa egocêntrica. Neste sentido, Irene apresentava uma visão mais humanizada, madura e consciente sobre a realidade, em que refere-se no âmbito social.

 

            O menino Josué demonstra o quanto à família é determinante para a formação da personalidade da criança. Ele, inclusive, acaba por querer que sua mãe envie uma carta para seu pai, de forma que um dia o garoto possa visitar o mesmo, que nunca conheceu. Porém, em uma das idas ao cartório, a mãe de Josué foi atropelada. Foi, somente mais tarde, quando Dora – a professora aposentada que escreve cartas – adotou-o e, após um tempo, foi juntamente com o garoto, à procura do pai de Josué, que o sonho tornou-se (à beira do) real.

 

            Na obra também está demonstrado o apego à religiosidade pelo povo mais humilde, principalmente o nordestino. Com a prática de procissões, rezas, meditações e contemplações, seguidas por uma multidão de pessoas ou fiéis. Isso deve-se ao fato do nível de pobreza, de conhecimento e de bagagem sócio-cultural. Não quer dizer que, se estas pessoas estivessem dentro de uma classe social de alto nível econômico, não teriam religião ou não seriam religiosas; Mas que a forma como essas pessoas mais humildes vivenciam a religião é diferente da maneira como as pessoas de condições financeiras mais altas encaram.

 

            Analfabetismo, migração, desamparo ao nordestino são apenas algumas características da denúncia apresentada no filme. O êxodo rural, da região nordeste para o sudeste, expressado no filme, é algo marcante e tocante. A região do nordeste em que habita o pai de Josué é um local extremamente pobre, seco e de baixíssimas condições de sustento agrícola, já que trata-se de uma região muito pouco desenvolvida, em relação à urbanização e em termos tecnológicos. O mais chocante é a não participação do Estado em dar apoio ou promover condições de vida melhores. Consequentemente, isso reflete da mesma forma nos aspectos sociais, de sociabilidade, de cultura e de conhecimento, do humano que vive em um contexto de pobreza. No entanto, ao chegar a determinado local da região sudeste, encontra-se – além da pobreza – o desenvolvimento organizado do tráfico, do assalto, do roubo e de demais criminalidades comuns de cidades maiores.

 

            Dora e Josué em nada se parecem, pois pertencem a mundos diferentes. Ambos apresentam comportamentos ambíguos entre si. Josué, com desejo de que a carta fosse escrita e entregue o quanto antes, ficava intrigado com Dora ao observar que ela rasgava e engavetava cartas, incluindo a carta dele e de sua mãe. Foi aí que, no momento em que Dora adotou-o, Josué encontrou uma carta dele ainda engavetada; Isso contribuiu grandemente para a forjante e dualista relação que ambos havia. Além disso, Dora pensou em “vender” o menino e, com o dinheiro que havia conseguido, comprou uma televisão. Embora, posteriormente, resolveu por raptar Josué e trazê-lo para a sua casa novamente, proporcionando o que fosse satisfatória ou regularmente necessário.

 

            Josué e Dora: um relacionamento com apego e separação. Mesmo apresentando caráteres diferentes e de contrariedade relacional a todo o momento, Josué e Dora continuavam juntos. Às vezes, havia o movimento de separação, mas por eventualidades diversas voltavam a conviver juntos, de modo que havia entre Josué e Dora relações transferenciais, havendo determinadas identificações. Ademais, por fim, quando Dora pensou que já havia feito sua parte de amparo e proteção a Josué, até perto de seus irmãos (e seu pai), deixando-o e seguindo para a viagem, rumo à sua própria casa.

 

            Durante todo o filme, os autores tiveram a preocupação em demonstrar contextos de vida da população menos favorecida economicamente: A falta, e/ou necessidades, de condições apropriadas e dignas de vida em locais diferentes, mas que há a presença comum de um fator de risco – a pobreza. Ela existe em diversos contextos e o filme buscou explorar a realidade do nordeste, que a caracteriza principalmente pela seca e pela falta de recursos e apoio governamentais, e a realidade do sudeste, onde a pobreza se manifesta pela desigualdade, de maneira que as classes sociais baixas se constituem pelas “favelas” e pelos bairros periféricos, os quais originam-se os mais diversos tipos de criminalidades. Contudo, essas consequências são resultantes desta necessidade de sobrevivência, em um espaço em que a miséria é acentuada e as condições econômicas são precárias.

 

(Texto elaborado em 2013, UNOCHAPECÓ, São Lourenço do Oeste).