Teorias e Técnicas em Psicologia: um estudo de caso

19/06/2012 20:46

            Com base nas disciplinas estudadas durante este quinto semestre do curso de Psicologia, serão abordadas as teorias e técnicas psicológicas de cada uma das quatro abordagens, Terapia Sistêmica, Psicanálise, Fenomenologia e Cognitivo-Comportamental, conforme seus pontos de vista referente ao modo de visualizar o ser humano e seu método de condução da terapia, bem como a relação terapeuta-cliente, a utilidade dos instrumentos de avaliação psicológica e o diagnóstico, a maneira pela qual se lida com a Psicopatologia e questões a respeito da saúde e doença e a relação destas com o trabalho.

            A seguir, será abordado um caso clínico para, posteriormente, fazer leitura do mesmo pelas óticas, fundamentalmente, particulares de cada abordagem para que possamos obter entendimento das teorias e práticas, observar suas possíveis relações e possibilitar um diálogo entre as mesmas, levando em consideração nossa construção acadêmica e aprendizagem em psicologia.

 

Caso Clínico:

 

            A., 31 anos, casada, graduada em Administração, trabalha como auxiliar administrativo, têm andado nestes últimos tempos muito preocupada, angustiada, não consegue dormir e se sente comumente desconfortável. É sua primeira vez que vai à psicoterapia. Seu marido, P., trabalha em um departamento de roupas masculinas. A. tem dois filhos, um menino de sete anos e uma menina de cinco anos.

            Ao tocar o telefone de sua casa, A. já fica ansiosa pensando que é a sua mãe ou seus filhos telefonando com algum problema grave e ficando preocupada como se algo estivesse para ocorrer a cada momento, pelo fato de há algum tempo o pai dela ligava do hospital, quando sua mãe estava doente. Sua Mãe teve câncer quando ela, A., tinha quatorze anos.

            Desde sua infância, por ser a filha mais velha, tem ficado responsável por cuidar da casa e seus irmãos. Ela morava em interior e participava frequentemente da Igreja e da sua comunidade, e gostava de ajudar as pessoas, pois era algo importante segundo seu pai. Ela acreditava que por ser a filha mais velha, na família, era necessário cuidar “de tudo”, e ser responsável, compromissada, de forma a agradar todos. Afirmando-se que “se sentia bem” com isso, era extremamente voltada para a família para “não dar incômodos”, não saia para se divertir durante sua adolescência e nem mesmo havia namorados, com exceção de um único antes de seu marido.

            Neste sentido, A. conheceu o P., seu marido, quando estava na metade da faculdade. Ele, P., morava em uma região distante - Minas Gerais. O pai de A., assim como o pai de P., é mais “fechado”, em silencio, com um estilo familiar conservador. Quando o pai de A. soube do namoro com P., ele não aceitou, pensando que A. devia namorar com alguém que fosse da mesma comunidade em que vivia ela e sua família. Há dez anos, quando contou a seu pai, que ela iria se casar com P., ele – o pai de A. não se importou muito com ela, “Há! Então ta bom!” (SIC).

            A. conta que sempre “se deu bem com a mãe” de seu marido, mesmo havendo uma forma diferente de convivência familiar. O namoro de A. com P., seu esposo, foi de aproximadamente de quatro a cinco anos. Posteriormente, os dois cansaram-se e tiveram filhos. Logo em seguida, A. acabou por ter mais compromissos e responsabilidades, o que fez com que fosse necessário deixar o seu trabalho, de auxiliar administrativo.

            Com a vinda dos filhos, houve mais algumas preocupações. Em função de problemas de saúde do filho – asmas e alergias, A. acabou por sofrer mais. Há um ano, aproximadamente, A. voltou a trabalhar e sua carga horária compreende o dia inteiro. No entanto, reclama achando ser complicado pela quantidade de tarefas que ela tem para fazer ultimamente. A partir daí, A. começou a ficar cada vez menos alegre e deprimida.

            A. diz que gosta ajudar as pessoas, fazendo tudo o que lhe pedem. Não diz “não” para nada e tenta agradar a todos, principalmente dentro de seu trabalho. Além disso, A. toma dois remédios, um para ficar mais animada e outro para dormir. Entretanto, ela conta que não anda mais tomando este último remédio – para dormir, por achar que é “muito remédio” que está tomando.

            Outro fator da preocupação e desconforto de A. é com os seus filhos, com determinada angustia se vai “conseguir cuidar”, e com o seu trabalho, em função de seu chefe exigir bastante sua prestatividade. Ela fica preocupada ao imaginar o que poderia ocorrer com o filho se acontecesse um problema de asma durante o período em que ele está na escola ou por “não ser uma boa mãe” (SIC). Levando em consideração sua fala sobre a saída do filho durante a madrugada, em que este tem sido visto como se tivesse “quebrado as regras” ou fazendo “algo proibido”, coisa que não se podia fazer.

            Em relação à sua filha, comumente, deixa em uma ONG enquanto vai trabalhar. Também, A. tem preocupações com seu marido, P., por “não ser uma boa mulher” (SIC), que se talvez morresse não faria falta. Durante o momento que A. conta de sua relação com o marido ela tira e coloca novamente várias vezes sua aliança. Contanto, não tem muito tempo para passar junto com seu marido, P., mas pensa que tem “uma boa relação” com ele, assim é também com seus filhos, pois para ela há sempre muitas tarefas para fazer.

            Quando A. chega de seu trabalho ela vai direto “atacar à geladeira”, pegar algo para comer e, depois, toma algumas taças de vinho, afirma não beber em excesso ou ser alcoólatra. Seu peso está aumentando. Está engordando 10 quilos. Porém, depois de comer fica deprimida e em silêncio. Geralmente, acha melhor que seus amigos não venham a sua casa, por pensar que ela não é “uma boa cozinheira” (SIC) ou bela, linda, para sair com os amigos. Sente-se “feiosa” por sua gordura. Para A. a comida e o vinho “aliviam” seu sofrimento em relação aos problemas.

            Seu marido, P., não gosta muito de ir à casa dos pais de A., tal como pelo fato de seu irmão ser supostamente envolvido com drogas, o qual apresenta também problemas na escola. Segundo A., a geração de seu pai “não era muito de ajudar em casa” (SIC), e muitas vezes quando este chegava em casa ele chorava. Ela conta, ainda, que sua mãe e seu pai haviam uma relação boa (“se relacionavam bem” [SIC]).

            Agora, a mãe de A. já está em casa e em tratamento, mas atualmente “tá bem” (SIC). Sua mãe é muito religiosa. Como diz A.: pois ela “que sempre rezou” (SIC). Ela diz que acabou “... por desacreditar em Deus”. Questionando-se: “Quê Deus que é esse?”, demonstrando-se estar revoltada em sua crença religiosa. A. não sabe quem vai cuidar dela, porém ela busca cuidar de todo mundo. Alega que sempre foi preocupada em cuidar das outras pessoas. A preocupação e o desconforto de A. começaram há mais de um ano e têm aumentado com o adoecimento de sua mãe.

 

Explanação Teórica e a Ótica das Teorias e Técnicas Psicoterápicas:

 

            O ser humano demorou muitos séculos, ao longo do tempo, para entender as atitudes diferentes, os comportamentos estranhos, as dificuldades particulares de cada sujeito e os problemas psicológicos graves. Antes de conseguir encontrar uma compreensão adequadamente científica para estes fenômenos o homem tem construído concepções e práticas diversas, as quais comumente se distanciavam da realidade cotidiana. Foi somente no final do século XVIII e início do século XIX que tornaram-se efetivos determinados procedimentos auxiliados por práticas humanitárias para o cuidado devido de indivíduos que haviam algum transtorno ou problema psicológico. (WERLANG et al, 2010).

            Essas mudanças tornaram-se sucessivas, também, com melhorias da hospitalidade dos locais de abrigo. Como consequência, muito têm se preocupado com o estudo das diferenças individuais e do comportamento, em buscar observar e entendê-los tais processos como parte natural da condição humana. (Idem, Ibidem). Neste sentido, o Laboratório de Wundt, como ponto inicial da Psicologia moderna – pela mudança de experimentos fisiológicos por experimentos voltados a fenômenos mentais por meio do método da introspecção, tornou-se promotor dos eventos e acontecimentos que vieram posteriores. (GOMES, 2004).

            Surgiram, a partir daí, os testes psicológicos, cujos seus objetivos no início eram muito mais focados em medir as diferenças entre os indivíduos considerados “retardados”, enfaticamente a detecção de deficiências intelectuais e problemas comportamentais, cuja sua influência principal foi proveniente da medicina psiquiátrica. Em seguida, outro fator que se caracterizaram os testes psicológicos foi o desenvolvimento destes no âmbito da educação, possibilitando sua utilidade neste espaço em função da necessidade de avaliação psicológica. (ANASTASI & URBINA, 2000).

            A psicoterapia é uma forma de tratamento de suma importância para encarar os problemas da vida, e nisso está incluso os distúrbios psicossomáticos, os conflitos interpessoais, os transtornos patológicos. A psicoterapia busca proporcionar um espaço apropriado para o crescimento e desenvolvimento do cliente, bem como o estabelecimento de diálogos construtivos, mudar hábitos estereotipados de convivência, possibilitando a oportunidade de compreensão e transformação de padrões acirrados que estão impregnados nos próprios relacionamentos e maneiras interessantes para um entendimento mais amplo do processo do adoecimento. (BOCK, 1999).

            Os testes psicológicos é uma ferramenta exclusiva da psicologia, sendo essencialmente uma medida já padronizada e de tendências objetivas, de uma ‘amostra’ de determinado comportamento de um indivíduo, de modo que são realizadas observações sobre essa pequena amostra, cuidadosamente escolhida. O valor diagnóstico de um teste psicológico varia de acordo com o grau em que ele serve como indicador de um espaço amplo e significativo de comportamento, levando em consideração que nenhum teste psicológico pode realizar mais do que mensurar o comportamento. (Idem, ibidem).

            Entretanto, os testes não compreendem a totalidade da avaliação psicológica, pois esta última é um processo que vai além da utilização de testes, sendo possível, aliás, realizar avaliações psicológicas sem quaisquer usos de testes psicológicos. A principal função dos testes psicológicos é possibilitar informações e dados rápidos e/ou profundos, em um pequeno espaço de tempo, e contribuir para que suas indicações forneçam maior segurança na resposta às demandas necessárias da avaliação, propiciando credibilidade das conclusões em momentos mais delicados, tal como, por exemplo, quando trata-se de situações periciais. (WERLANG et al, 2010).

            De acordo com o Conselho Federal de Psicologia (2010):

 

 

A avaliação psicológica é um processo de construção de conhecimentos acerca de aspectos psicológicos, com a finalidade de produzir, orientar, monitorar e encaminhar ações e intervenções sobre a pessoa avaliada, e, portanto, requer cuidados no planejamento, na análise e na síntese dos resultados obtidos. (CFP, p. 16, 2010).

 

 

 

            É possível utilizar também, dentro de um processo de avaliação psicológica, uma variedade de testes e estratégias cujo objetivo seja efetuar uma avaliação intertestes das informações e dados obtidos, a começar de cada instrumento psicológico em particular, de modo a fornecer um melhor fundamento para referência psicológica. Esta maneira de avaliação inclui geralmente o uso da bateria de testes – um conjunto de instrumentos psicológicos, que deverá ser utilizados em determinados momentos e/ou circunstâncias. (CUNHA, 2000[b]).

            Os autores Cunha, Freitas e Raymundo (1993[a]) compreendem o psicodiagnóstico como sendo este:

 

 

um processo científico, limitado no tempo, que utiliza métodos e técnicas psicológicas, em nível individual ou não, entendendo à luz dos princípios teóricos, os problemas, identificando e avaliando aspectos específicos, classificando o caso e prevendo seu curso possível, para comunicar resultado. (CUNHA; FREITAS & RAYMUNDO, p. 5, 1993[a]).

 

 

            O processo de psicodiagnóstico constitui uma situação de papéis extremamente definidos, configurado por um contrato entre o cliente, que pede ajuda terapêutica, e o psicólogo, que se compromete em satisfazê-lo conforme as suas possibilidades. A duração do mesmo é limitada e objetiva obter uma descrição e compreensão, quanto mais profunda e completa possível, da personalidade total do cliente ou grupo familiar, buscando investigar alguns aspectos em particular, de acordo com a sintomatologia (e características de indicação), envolvendo questões do passado, presente e futuro da personalidade, utilizando-se de certas técnicas como a entrevista semi-dirigida, técnicas projetivas, entrevista de devolução. (OCAMPO & ARZENO, 2001).

            Conforme Cunha (2000[c]), o psicodiagnóstico é uma avaliação psicológica com propósitos clínicos que visa identificar capacidades e dificuldades no funcionamento psicológico, de haver ou não (traços de) uma psicopatologia. Posteriormente, o mesmo autor busca descrever, em tópicos, as partes da operacionalização do psicólogo que deve ser levado em consideração seus comportamentos específicos para a realização do diagnóstico, dentro de um modelo clínico, que são determinantes no processo. Embora possam variar na especificidade e na sua seriação, são eles:

 

 

a)    Determinar motivos do encaminhamento, queixas e outros problemas iniciais;

b)    Levantar dados de natureza psicológica, social, médica, profissional, e/ou escolar, etc., sobre o sujeito e pessoas significativas, solicitando eventualmente informações de fontes complementares;

c)    Colher dados sobre a história clínica e história pessoal, procurando reconhecer denominadores comuns com a situação atual, do ponto de vista psicopatológico e dinâmico;

d)    Realizar o exame do estado mental do paciente (exame subjetivo), eventualmente complementado por outras fontes (exame objetivo);

e)    Levantar hipóteses iniciais e definir os objetivos do exame;

f)     Estabelecer um plano de avaliação;

g)    Estabelecer um contato de trabalho com o sujeito ou responsável;

h)    Administrar testes e outros instrumentos psicológicos;

i)      Levantar dados quantitativos e qualitativos;

j)      Selecionar, organizar e integrar todos os dados significativos para os objetivos do exame, conforme o nível de inferência previsto, com os dados da história e características das circunstâncias atuais de vida do examinando;

k)    Comunicar resultados (entrevista devolutiva, relatório, laudo, parecer e outros informes), propondo soluções, se for o caso, em benefício do examinando;

l)     Encerrar o processo. (CUNHA, 2000[c]. p. 30).

 

 

            Além disso, são reconhecidos no processo de psicodiagnóstico os seguintes passos: o primeiro contato com o cliente, o qual pode ser presencial, por telefone ou ainda por intermédio de outra pessoa, e a entrevista inicial, a qual é semi-dirigida e o cliente é livre para expor seus problemas, começando por onde preferir e incluindo o que desejar; a aplicação de testes e técnicas projetivas, conforme a bateria previamente selecionada e ordenada segundo o caso, bem como o tempo em que o psicólogo deverá se dedicar ao estudo do material recolhido; o encerramento do processo – a entrevista de devolução oral de informações ao cliente e/ou a responsáveis; e o informe descritivo para o remetente, que o encaminhou o caso. (OCAMPO & ARZENO, 2001).

            Na entrevista inicial, de acordo com estes autores, o entrevistador intervém a fim de destacar alguns vetores, quando vir ao caso de o entrevistado não saber como começar ou continuar; pontuar situações de bloqueio ou paralisação em função de angústia para garantir o cumprimento das metas da entrevista; e perguntar e investigar aspectos da conduta do entrevistado, no que diz respeito a questões não referidas espontaneamente, em relação a lacunas ou possíveis contradições das informações do cliente. Recomenda-se começar com uma técnica diretiva no primeiro momento da entrevista, algo que se corresponda à apresentação mútua, o esclarecimento do enquadramento pelo psicólogo e o momento em que o cliente tem a oportunidade de expressar-se livremente.

            A começar do primeiro contanto com o cliente, ocorrem alguns fatos que mobilizam no psicólogo a decisão de aplicar uma quantia maior ou menor de testes, influindo nisso a relação predominante entre ambos. O melhor seria que a extensão da bateria e o número de entrevistas iniciais e finais se mantenham constantes, supondo a possibilidade por parte do psicólogo de aceitar um determinado limite para si mesmo e colocar também um limite para o cliente. Se o vínculo for predominantemente negativo, pode haver o prolongamento do processo terapêutico. Se reduzir demais haverá, um déficit de informação, independente de qual for o material de testes utilizados. (Idem, ibidem).

            A capacitação do profissional desta área deve passar pela melhor forma possível de identificação de quais são os instrumentos mais eficientes para si mesmo. Os testes psicométricos e os projetivos são pressupostos fundamentais, não só para uma diferenciação de didática, mas principalmente para a escolha do instrumento psicológico que seja congruentemente lógico aos objetivos desejados. Enquanto os testes psicométricos estão baseados em critérios observáveis, concretos e objetivos, para mensurar determinado constructo e avaliar aptidões; os projetivos são firmados em aspectos mais subjetivos, dinâmicos e que não são observáveis. (PASQUALI, 2001).

            Os testes gráficos são os testes psicológicos em que mais são apropriados para o início de um exame psicológico por refletir aspectos estáveis da personalidade e mais difíceis de serem modificados. Salvo às exceções a pessoas que apresentam transtornos orgânicos sérios, alterações graves do esquema corporal ou dificuldades de usar as suas mãos. É necessário, para planejar uma bateria, configurar testes que captam grande número possível de condutas verbais, gráficas e lúdicas, possibilitando a comparação de uma mesma forma de conduta causada por diversos estímulos ou instrumentos e variados tipos de conduta entre si, sendo algo de suma importância:

 

 

[...] discriminar a sequência em que serão aplicados os testes escolhidos. Ela deve ser estabelecida em função de dois fatores: a natureza do teste e a do caso em questão. O teste que mobiliza uma conduta que corresponde ao sintoma nunca deve ser aplicado primeiro (um teste verbal a um gago, ou um teste de inteligência a uma pessoa que consulta por causa de dificuldades intelectuais, ou um desiderativo a um depressivo, esquizofrênico, moribundo ou velho, para quem a vivência de morte é algo tão presente). Utilizar estes testes em primeiro lugar supõe colocar o paciente na situação mais ansiógena ou deficitária sem o prévio estabelecimento de uma relação adequada. (OCAMPO & ARZENO, 2001. p. 55).

           

 

            Incidir o contrário do recomendado acima significa equivocar-se, viciando todo o processo do psicodiagnóstico e transferindo uma entonação persecutória, incidindo pelo impedimento de manifestarem-se os aspectos adaptativos. Por estes motivos, os testes mais ansiógenos são recomendados para realização somente nas últimas entrevistas. Os testes mais apropriados para o início, tal como os testes gráficos, permitem que o cliente sinta-se mais aliviado, por abarcarem questões mais dissociadas e menos sentidas. Isso deixa o cliente mais aliviado, modifica suas fantasias com que chegou a respeito da avaliação, permitindo o desenvolvimento de um bom rapport com o psicólogo.  (Idem, ibidem).

            O diagnóstico psicológico pode ser utilizado, segundo Cunha (2000[c]), de diversas maneiras: A) pelo psicólogo, pelo psiquiatra (e, em alguns casos, pelo neurologista ou psicanalista), na identificação de patologias e voltado ao tratamento médico (sem uso de testes e técnicas privativas da psicologia); B) pelo psicólogo clínico, para a realização de testes e técnicas privativas do profissional de psicologia (psicodiagnóstico); C) por uma equipe multiprofissional (psicólogo, psiquiatra, neurologista, orientador educacional, assistente social, etc.), em que desempenham seu trabalho em conjunto, possibilitando uma melhor interação profissional.

            Contanto, durante o momento da hora do jogo diagnóstica, o papel do psicólogo é um papel passivo, já que é observador, e ativo, na medida em que sua atitude atenta e abre-se à atenção flutuante, permitindo a análise e compreensão na formulação de hipóteses sobre a problemática do caso. É inegável, a influência do advento da Psicanálise no desenvolvimento do psicodiagnóstico e da própria psicologia moderna em si. (OCAMPO & ARZENO, 2001).

            A entrevista inicial, na Psicanálise, procede por: o tipo de encaminhamento que o cliente trouxe e o contato inicial com o mesmo; a aparência exterior, como ele está vestido e se manifesta algum comportamento visível, tal como movimentação motora e forma de andar; a realidade exterior, suas condições socioeconômicas, seu entorno na família, trabalho e metas de vida; o histórico familiar, se há casos de internação na família, suicídio, alcoolismo; o grau de motivação, se ele está disposto a enfrentar jornadas onerosas e difíceis; o estilo das suas relações objetais reais, se há compulsividade de repetir as mesmas configurações vinculares; e a forma como se comunica, verbal ou não. (ZIMERMAN, 1999).

            Analisando o Caso Clínico citado a partir da ótica psicanalítica, observa-se que a doença do filho de A. – asmas e alergias – foi uma doença psicossomática, resultante dos problemas que a família já vem enfrentando. Também percebe-se que A. projetava características de seu Pai em seu Marido. Assim como também, percebe-se que o Superego de A. era muito bem rígido, duro. A. cobrava-se muito, principalmente a respeito de buscar, ou tentar, agradar todas as pessoas, fazendo tudo o que lhe pedem. Como consequência, A. havia muitos sentimentos de culpa, medo, baixa auto-estima e impotência. Como diz Zimerman (1999):

 

 

[...] sob a forma de culpas, auto-acusações, busca inconsciente por punições, desvalia e baixa auto-estima, rigidez obsessiva, quadros melancólicos, etc., sendo que os pensamentos prevalentes são os de culpa e medo. Trata-se, portanto, de uma instância que pode atingir uma condição essencialmente punitiva, muitas vezes com características extremas de perseguição e crueldade. (ZIMERMAN, 1999. p. 285).

 

 

            Esses fatores contribuíram, posteriormente, para o desenvolvimento de episódios de depressão e traços de ansiedade generalizada. Episódios de Depressão trazem o rebaixamento do humor, a diminuição da atividade e a redução da energia. Assim, também ocorre uma mudança na capacidade de experimentar o prazer, diminuição da capacidade de concentração, perda de interesse, isso tudo frequentemente estão associados ao cansaço acentuado.  Também, deve-se lembrar que geralmente ocorrem também problemas no sono e diminuição da alimentação (apetite), aliados comumente a uma diminuição da auto-estima, da confiança em si próprio e é tomado por ideias de culpa. (CID-10, 2011).

            Ainda conforme o CID-10 (idem), o humor decorrente da depressão difere de momentos para momentos, dias ou segundos, o qual pode estar acompanhado de sintomas somáticos: agitação, perda de libido, apetite e de interesse e prazer. Os sintomas geralmente passam por um conjunto específico de comportamentos, diferenciáveis de outras neuroses (insônia ou hipersonia, falta ou aumento de apetite, desanimo, apatia, falta de concentração).

            Já a ansiedade generalizada trata-se de uma preocupação excessiva, que pode ser relativo a diversos acontecimentos ou fatos cotidianos, que perduram por mais de seis meses, apresentando sintomatologia cognitiva, fisiológica e motora. O indivíduo comumente sente tensão dos músculos, irritação, cansaço, alterações do sono, comportamentos de evitação e palpitação. Os sinais são a distorção cognitiva relacionada à supervalorização da ocorrência de um acontecimento receado ou a respeito da sua severidade, e a valorização de confronto ou briga e a recusa de ser ajudado. (DSM-IV, 2002).

            De acordo com a Terapia Familiar Sistêmica, a missão familiar de A. era assumir todas as responsabilidades às quais lhe eram designadas. A. encontrava-se inserida em um macrossistema onde a comunidade, a cultura e a religião estavam, não somente presente, mas em foco de suas relações macrossistêmicas. O ambiente do microssistema de A. estava, em maior parte, voltado ao trabalho: cuidar dos irmãos, fazer o que seus pais lhe diziam, buscar agradar as pessoas, cuidar e preocupar-se com sua mãe. Essas questões entraram choque, trazendo traços ansiosos em relação ao seu sistema familiar.

            Além do mais, a posição do Marido de A. no sistema familiar, foi tomado pela sua Mãe: A. vivia em função da Mãe, em decorrência de sua preocupação exagerada com a mesma. A. estava em uma relação fusionada com sua Mãe. Observa-se que no sistema da família de A. havia uma persistência – muito comum nas famílias que estão em terapia – de manter a Homeostase, em não mudar quanto aos problemas enfrentados dentro do sistema e até mesmo no Holon conjugal e no Holon fraternal.

            O foco do Terapeuta Sistêmico é interpretar qual é o papel familiar de A., fazendo ela perceber que não é responsável por tudo e por todos. Esta é uma família extremamente Psicossomática e Três gerações, pela relação íntima em que havia com a Mãe, mesmo não residindo juntas.

Nas concepções da Fenomenologia, as relações de A. há uma enorme falta de tele, criatividade e espontaneidade. Nota-se que A. ainda se encontrava no desenvolvimento no Cluster materno, ainda. Onde a relação dela com a Mãe permanece indiferenciável. Interessante, também, mencionar a questão do Encontro moreniano:

 

 

“Um encontro entre dois: olho no olho, cara a cara. E quando estiveres próximo tomarei teus olhos e os colocarei no lugar dos meus, e tu tomarás meus olhos e os colocarás no lugar dos teus, então te olharei com teus olhos e tu me olharás com os meus.”  (GONÇALVES,WOLLF e ALMEIDA 1988, p.53 ).

 

 

            Observa-se também, que há diversos traços de conserva cultural presentes dentro das relações de A. à sua volta e nela mesma. Existem muitos traços em que apontam que A. ainda se encontra no Primeiro Universo de Matriz de Identidade, pelo fato de ela estar muito confusa.

            Baseando-se em Cognitivo-comportamental, as Crenças Centrais de A. era a respeito da incapacidade, impotência. Quando o telefone da casa de A. toca, seu pensamento já processa como sendo algo ruim e, como consequência desse pensamento, fica inquieta, preocupada, com sua Mãe e/ou com seus Filhos. Seu próprio pensamento automático fica acionando que a cada momento pode ocorrer algo ruim. A Crença-Regra de A. é que ela tem que ajudar – fazer o que os outros pedem. Algo que, per se, é decorrente de construções e conservas culturais.

            Em decorrência de aprimoramentos nos modos de compreender a psicoterapia e a saúde mental, no desenvolvimento das abordagens de psicologia, cremos que este semestre tem permitido uma maior compreensão e entendimento dos referenciais teóricos, das práticas e técnicas relativas às disciplinas, na construção acadêmica como um todo, em nosso conhecimento e aprendizagem em psicologia.

 

 

Referências Bibliográficas:

 

ANASTASI, A; & URBINA, S. Natureza e Uso dos Testes Psicológicos. In: ________. Testagem Psicológica. 7ª Ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

BOCK, A. M. B; FURTADO, O; & TEIXEIRA, M. de L. T. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 1999.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Avaliação Psicológica: diretrizes na regulamentação da profissão. Brasília: DF, 2010.

CID-10, Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (Organização Mundial da Saúde). 10ª Ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2011.

CUNHA, J. A; FREITAS, N. K; RAYMUNDO, M. G. B. Psicodiagnóstico-R. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993[a].

CUNHA, J. A. Passos do Processo Psicodiagnóstico. In: __________. Psicodiagnóstico-R. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000[b].

CUNHA, J. A. Fundamentos do Psicodiagnóstico (Cap. 2). In: ___________. Psicodiagnóstico-V. 5ª Ed. Porto Alegre, Artmed, 2000[c].

DSM-IV, Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders). 4. Ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2002.

GOMES, W. Avaliação Psicológica no Brasil: tests de Medeiros e Albuquerque. In: Revista “Avaliação Psicológica”. Porto Alegre: v. 3, n. 1, 2004.

LAPLANCHE, J; & PONTALIS, J. B. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 1988.

OCAMPO, M. L. S. de; & ARZENO, M. E. G. O Processo Psicodiagnóstico. In: OCAMPO, M. L. S. de. O Processo Psicodiagnóstico e as Técnicas Projetivas. Miriam Felzenszwalb (Trad.). 10ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

OCAMPO, M. L. S. de; & ARZENO, M. E. G. Entrevistas Para a Aplicação de Testes. In: OCAMPO, M. L. S. de. O Processo Psicodiagnóstico e as Técnicas Projetivas. Miriam Felzenszwalb (Trad.). 10ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

PASQUALI, L. Técnicas de Exame Psicológico (TEP: Fundamentos das Técnicas de Exame Psicológico). Vol. 1. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2001.

ZIMERMAN, D. E. A Psicanálise Contemporânea (Cap. 4). In: __________. Fundamentos Psicanalíticos: teroria, técnica e clínica, uma abordagem didática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.

WERLANG, B. G. et al. Avaliação Psicológica, Testes e Possibilidades de Uso. In: CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Avaliação Psicológica: diretrizes na regulamentação da profissão. 1ª Ed. Brasília: CFP, 2010.

GONÇALVES, Camila Salles. Lições de Psicodrama: introdução ao pensamento de J.L. Moreno. São Paulo: Ágora,1988.


(Artigo elaborado em 2012, UNOCHAPECÓ, São Lourenço do Oeste).

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