Síntese de Algumas Palestras do "16º Encontro Nacional de Psicologia Social" (em Recife-PE)

19/06/2012 17:43

            Entre os dias 12 a 15 de novembro, participamos do 16º Encontro Nacional de Psicologia Social, ocorrido em Recife, Pernambuco. Lá, durante o evento, fizemos parte de várias palestras, dentre as quais, algumas estavam relacionadas a questões de desenvolvimento e aprendizagem, indisciplina escolar e práticas de observação voltadas ao público infantil, destacando a importância e experiências de estágio supervisionado na compreensão das relações entre professores, alunos e escola.

            Algo que tem chamado muito a atenção é a forma de contextualização inerente à escola frente à observação, buscando visualizar a mesma por duas óticas: a escola normatizada, hierarquizada, padronizada; e a escola em construção, a partir de conteúdos trazidos pelos seus ‘atores’: alunos, professores, funcionários. Ou seja, articulando aos estudos da Análise Institucional da disciplina de Psicologia Social, deste semestre, podemos ver dois pólos: aquele das forças instituídas, e aquele das forças instituintes, onde ambos estão em movimento contínuo, buscando tanto se conservar como tal, quanto dar espaço para novas construções.

            De acordo com um teórico citado - Dayrell (1996), as escolas criam uma forma própria de cada uma, de inter-relações, as quais movimentam-se, constroem jeitos de tornar escola, onde esta fica marcada pela apropriação do controle e pelas resistências na luta contra o poder dominante. Assim, olhar a escola na visão sócio-histórico-cultural significa compreendê-la no fazer cotidiano, nos conflitos, na reprodução do velho, na possibilidade de construção do novo, no resgatar do papel ativo e vivo da escola e seus atores.

            Uma das constatações apresentadas é que a indisciplina é um fenômeno educacional, hora apresentada pelos professores, hora incorporada pelos adolescentes. Fator esse, evidencia a reprodução social e o lugar posto pela sociedade aos alunos. Com isso, constatando a existência simultânea tanto de resistência a este contexto por parte dos adolescentes, quanto a utilização desse “contexto” como possibilidade de conviver em um grupo e expressar-se. Muitos deles entendem isso como o único canal possível de exercitar o poder sobre as relações existentes na escola. Poder esse que permita incorporar, ser e denunciar.

            Neste sentido, o âmbito da educação no Brasil revela o descaso político ao longo do tempo, realizando uma educação diferenciada para as pessoas em situação de pobreza, e respondendo às necessidades socioeconômicas vigentes, conforme cita Patto (2009). Assim, foi por meio da intervenção que tornou-se possível retratar algumas das relações existentes em escola, demonstrando ‘as diversidades de adolescências’, além de realizar algumas investigações a respeito do papel do psicólogo educacional. Também, na compreensão dessas relações veio à tona um cotidiano com um mínimo de diálogo e com resoluções de conflitos que se procediam através do ‘abuso do poder e da punição’.

            No decorrer da história do Brasil, a escola vêm sendo violada e renegada, configurando, muitas vezes, em um descaso institucionalizado pelo Estado. Se baseando em Patto (2009), o período colonial foi marcado pela ausência da escola, apenas tratada pelos Jesuítas que se utilizavam da alfabetização como maneira de evangelização. A autora fala, ademais, que no período imperial a escola continuou a ser marcada pela ausência, com exceção dos filhos de famílias burguesas que detinham escolas próprias e davam prosseguimento no estudo em países europeus.

            Entretanto, depois do século XX, houve a construção de redes escolares, e somente no final da ditadura militar que a escola passa a ser reinventada pela perspectiva de direitos, possibilitando o acesso a todos, permanência e qualidade. Antes disso, a escola era vazia, com grande índice de crianças fora da mesma, e agora a mesma passa a ser cheia de alunos, porém marcada pelo processo de exclusão no interior da própria escola, propondo-se a ocupar o tempo livre das crianças e adolescentes, mas não se modifica para acolhe-los, mantendo-se os mesmos aspectos padronizados e normativos. (PATTO, 2009).

            Todavia, como fala Dayrell (1996), para não olharmos sob um vértice reducionista, em relação à escola, torna-se necessário observá-la por dentro de si mesma para ser possível compreender a mesma como que perpassa por questões histórica, social e cultural. Dayrell (1996, p. 137) cita: “[...] aprender a escola como construção social, implica assim, compreende-la no seu fazer cotidiano”.

            Contudo, ocorreram alguns debates, discussões e explanações breves a respeito de várias questões, como por exemplo: Quais os modos de ser jovem destes sujeitos? Qual o sentido da escola para esses jovens? Como estas pessoas vivenciam suas experiências nesses espaços?

            Algumas contextualizações seguintes, falavam a respeito de que para grande parte dos professores essas perguntas não faziam sentido algum, pois a resposta da escola já está dada, pronta, se sustentando em teorias e argumentos provenientes de Dayrell (1996), onde os alunos independem de sexo, idade e condições sociais, vistas essas como não determinantes no processo de desenvolvimento-aprendizagem.

            Os alunos, por sua vez, de acordo com essa concepção de escola deviam ser entendidos de forma igual, e a escola como sendo uma organização linear, estática, de grade e currículo igualitários entre todos, padronizadamente, dentro de uma tentativa de homogeneizar a instituição escolar e seus membros: alunos, professores, funcionários. Essa homogeneização reduz a diversidade de individualidades e as práticas escolares com seus saberes, algo que se deve resistir para que não se reduza a totalidade das dimensões humanas.

            Por fim, questiona-se: para que serve a psicologia educacional? Segundo Bock (2004), esta deveria ser capaz de denunciar as péssimas condições de vida como geradoras de desigualdades, onde muitas vezes levam a criança e/ou o adolescente a acreditar que são responsáveis pelos seus fracassos escolares. Os psicólogos como agentes educacionais não podem manter-se ingênuos e nem mesmo esquecer dos objetivos da sua prática psicológica em âmbito escolar. 

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