Síntese Articulada entre o Filme "Uma Lição de Amor", o texto "A Voz da Criança Abrigada" e as Resoluções CFP nº 10/2010 e nº 08/2010

19/06/2012 20:03

-NELSON, Jessie. Filme: “Uma Lição de Amor” (I Am Sam). Estados Unidos da América: PlayArte (New Line Cinema), 2001. 1DVD (ca. 134min), son., calor. Produzido por Richard Solomon.

-ROSSETTI-FERREIRA, SOLON & ALMEIDA. “A Voz da Criança Abrigada: a delicada arte da conversa e da escuta”. Brasília: Conselho Federal de Psicologia, 2010.

-E as Resolução CFP n° 10/2010 e Resolução CFP n° 08/2010 (do Código de Ética Profissional do Psicólogo).

 

 

            O filme, “Uma Lição de Amor”, aborda problemas e dificuldades de um homem (Sam) frente à luta em manter sua filha (Lucy) morando junto consigo, no desempenhar do papel paterno, sabendo que o mesmo era portador de deficiências mentais. Neste sentido, houve o fator de separação entre Sam e Lucy, onde esta última foi enviada a um orfanato para doação, de acordo com uma ordem judicial.

            Com isso, o texto, “A Voz da Criança Abrigada: a delicada arte da conversa e da escuta”, enfatiza um tanto do quanto a questão do abrigamento de crianças e adolescentes pode contribuir para um período de crise, levando a criança ou o adolescente refletir sobre algumas perguntas: “Quem sou eu? Donde venho? A que família e a que grupo pertenço? Qual minha história de vida? O que será de mim no futuro?”.

            Todavia, no decorrer do tempo essas perguntas, na busca e constituição de sua própria identidade, tornam-se mais intensas e acentuadas, principalmente em momentos de mudança e crise. Isso é bem explicitado no filme, principalmente quando Lucy estuda na companhia de seu pai, embora essas perguntas faziam-se presente em diversos contextos e momentos do mesmo.

            No filme, quando Lucy é interrogada em um processo judicial foi disposta solitária e em uma sala espelhada frente ao Juiz, Promotor, Psicólogo, etc., sem acompanhamento algum, privando de qualquer apoio ou auxílio psicológico e, ainda mais agravante, em momento algum ela foi ouvida para saber o que pensava ou sentia, em particular, a priori daquela situação. Sua narração se limitou à tão somente em responder perguntas redigidas por um Profissional de psicologia a pedido do Juiz.

            O texto trás que é através da interação com o social que a criança e/ou adolescente constrói sua identidade e se constitui como ser humano, aprende e obtêm experiências com base nos significados construídos, diante de sua capacidade de compreensão da sua convivência e história de vida e seus interesses nos mais variados momentos do seu desenvolvimento.

            Ainda segundo o texto referido, as crianças e/ou adolescentes nestas situações são pouco ouvidos. Generalizando, estes não têm espaço algum para se expressar suas angústias pessoais e transtornos ambientais, enquanto seres que também necessitam de um amparo e cuidado psicológico enfaticamente nesses casos. Assim como também a história de vida de cada sujeito que está nessas condições é pouco falada ou comentada.

            Esses sujeitos passam de família biológica para abrigo, deste ao retorno em sua família de origem ou para uma família responsável, e ainda desta última para uma subsequente até chegar a uma família definitiva, de adoção. Ou seja, essas crianças e/ou adolescentes são circuladas de ambiente para outro, às próprias decisões dos adultos, sem ao mínimo conhecer as perspectivas e percepções que os mesmos detêm sobre si mesmo diante dos acontecimentos ocorrentes. Situação essa também presente no filme.

            A Resolução CFP n° 10/2010, é que institui a escuta psicológica de crianças e adolescentes em rede de proteção e em situação de violência, como também a ética profissional referente ao exercício profissional da escuta psicológica, a qual segue determinados critérios para tal. Ademais, como descrito no Artigo 4º da Resolução CFP n° 08/2010, a realização da perícia necessita de um espaço físico próprio que considere tanto a privacidade do sujeito, quanto a qualidade dos recursos psicológicos.

            O processo de escuta, ao contrário do que trouxe o filme, deve ser aberto e flexível, assim, tornando-se possível ouvir e acolher diferentes maneiras – a multiplicidade – de linguagem e de narrativas da criança e/ou adolescente, não limitando-se apenas à uma forma ou um modo de expressão, e favorecendo a construção de relações sociais afetivas e dentro de um ambiente propício ao seu desenvolvimento contínuo.

            Entretanto, também a Resolução CFP n° 08/2010, mais especificamente o Artigo 3º, fala que de acordo com as particularidades de cada caso o trabalho do perito poderá incluir observação, entrevista, visita domiciliar e institucional, uso de testes psicológicos, utilização de práticas lúdicas e outros métodos e técnicas reconhecidas pelo Conselho Federal de Psicologia, pois os peritos não podem se basear somente no trabalho em avaliar e tentar enquadrar em um padrão já determinado, isso é totalmente equivocado.

            Pois, eu me pergunto, então: como fica o pensamento de uma criança quando ocorre uma questão de separação, em casos que a mesma é retirada de sua família, levada a um abrigo para doação, ou deixada sob a guarda de uma família responsável, e mais tarde retirada deste novo contexto para a definitiva doação, levando em conta a desconsideração ocorrida geralmente a respeito das diversas redes de relações sociais desenvolvidas pela criança em ambos os espaços? E mais: e a partir do momento em que a criança se vê sozinha nesse processo de “vai e vem” e/ou de interrogações, sem ao menos um apoio psicológico, sem ter com quem contar, obter ajuda ou auxílio nestas situações?

            Preocupante isso, pois, as crianças e adolescentes nessas condições, tal como o filme abordou assim como o texto também enfatizou, devem ter mais chances e possibilidades de encontrar apoio, afeto, diálogo e serem ouvidas, em todo o momento em que os mesmos passam por dificuldades, mudanças ou crise, bem como principalmente em casos de separação de sua família de origem, deve-se promover e proporcionar a inclusão e participação dos mesmos na sociedade como um todo, dispondo às suas necessidades o trabalho psicológico, em auxiliar e acolher, de modo a não se sentirem, ao menos, sozinhos no processo.

            Assim, lembrando-se de uma fala de Lucy, em que ela afirma: “Tudo o que eu preciso é amor!”.

 

 

(Síntese elaborada em 2012, UNOCHAPECÓ, São Lourenço do Oeste).