Resenha Crítica do Filme "Bicho de Sete Cabeças"
BODANZKY, Laís. Filme: “Bicho de Sete Cabeças”. Brasil: Columbia, 2001. 1DVD (ca. 74min), son., calor. Produzido pela Sony Pictures.
O filme, “Bicho de Sete Cabeças” retrata muito bem o dia-a-dia vivenciado nos hospícios ou manicômios, ele mergulha em uma viagem a respeito da forma de tratamento manicomial encarcerado. Este filme retrata a vida de Neto, um jovem de classe média baixa, com 16 anos de idade, anda frequentemente de skate e realiza algumas rebeldias comuns da adolescência, como pichar muro e usar drogas.
Embora eu creia que o uso de drogas e a quebra de valores sociais não se possam ser rotulados como “normais” ou “anormais”, exatamente, é algo muito comum na sociedade, principalmente entre os adolescentes em que a transgressão das regras e normas sociais ganha espaço, diante deste cenário de mudanças e transformações, tanto individuais quanto coletivas e sociais. Dá-lhe certa liberdade pela busca da sua própria individualidade e subjetividade na sua relação com as pessoas e a sociedade em si. “É preciso destruir o velho para criar o novo”1.
A falta de diálogo entre Neto e sua família criara um clima de desconfiança e mal-entendimentos e, mais ainda, o clima é forjado quando seu pai encontra um cigarro de maconha que, por descuido, deixou cair do seu bolso. O relacionamento entre ele (Neto) e sua família consistia numa relação de inimizade.
O fato é que Neto buscava ter mais liberdade, emoções, aventuras, enfim, descobrir o seu mundo ou grupo de inserção social, de acordo com suas identificações pessoais. Enquanto isso, sua família, tomada pelo desvencilhamento e desentendimento da descoberta súbita da determinada situação, infligem de medo e “cuidado”. Medo esse, é causa de exagero no modo de relacionamento da sua família para com Neto – o medo de seus pais é de perderem o controle sobre ele –, e chegando a ponto de interná-lo em um hospital psiquiátrico, um manicômio.
Naturalmente, a família de Neto, em especial seus pais, não procurou conhecer a situação dele, mas dominá-lo antes que tarde. Nem antes de seus pais ficarem sabendo, nem depois, em momento algum tiveram um diálogo satisfatório entre si, que pudessem esclarecer suas realidades individuais para ser possível uma compreensão maior e uma boa relação e, talvez, tentar melhorar.
Entretanto, sua família foi bem objetiva após a descoberta, não houve dúvida em mandar Neto para um hospício com intenção de mudar seu comportamento ou “estado doentio”. No hospício ou manicômio há uma outra realidade por detrás de uma imagem utópica. Um tratamento absurdamente desumano, mas que fazia parte do regime interno, tomado por um sistema de corrupção e crueldade.
Os maus-tratos e a violência eram frequentes. Neto estava submetido à aplicação e/ou ingestão de remédios e medicamentos, e pior, sem nenhuma avaliação ou exame médico referente.
Os apelos de Neto à sua família para que o tirem do manicômio são vistos com “maus-olhos”, como se fosse prova clara de loucura ou psicopatologia, e quando por ventura consegue sair, sofre preconceitos, sem falar nas dificuldades de voltar a viver naquele padrão cotidiano que havia antes, o que complicou a readaptação e contribuíram, em suma, para o retorno ao hospital psiquiátrico e, consequentemente, ao convívio com doentes mentais em estágios avançados de psicopatologia ou enfermidade.
O psiquiatra que tratava Neto e os outros membros da instituição agredia os doentes e tomava até “uísque com bolinha”2. Então, eu me pergunto como um profissional deste gênero exacerbado pode exercer determinada profissão ativamente? Há vigilância no local? Se existe, cadê o órgão ou federação responsável pela referida profissão e/ou instituição? (“eu fico sem resposta” [sic!]).
No hospital psiquiátrico ou hospício, além de todas as barbáries de drogas medicamentais, condições psicológicas precárias e comprometidas, e profissionais impróprios à profissão, também havia o horror do eletrochoque, que conduzia “de até 460 volts”3, sabendo que as descargas aplicadas “causam convulsões e queima de neurônios”4.
Atualmente, as internações de jovens em hospícios ou hospitais psiquiátricos por serem usuários de drogas continuam acontecendo e, comumente, são dopados de medicamentos, não creio que isso deveria ocorrer dessa forma. Outro ponto importantíssimo é o uso de cigarro pelos doentes mentais... “Então o cigarro não é droga?”5. Ou melhor falando, os manicômios ou hospícios estão para tratar ou para entorpecer os doentes?
Elementos afins, tais como os citados aqui, acredito plenamente de que ainda existem no interior dos hospitais psiquiátricos ou hospícios, em seu mais íntimo. As drogas e as doenças psicológicas ou psicopatologias existem, elas estão aí, elas devem ser encaradas com ética, bom senso e profissionalismo.
O ponto-chave, como disse Laís Bodanzky – diretora do filme, é “entender o outro, aceitar o outro, compreender as diferenças”6. Assim, neste sentido, as relações estabelecidas, e principalmente o diálogo e o bom relacionamento, podem fazer grandes diferenças e evitar consequências trágicas em nossa vida. Ou então, queremos passar por experiências parecidas ou semelhantes às de Neto?
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1 = criação metafórica de própria autoria.
2 = citação extraída da entrevista de Luiz Bolognesi, veja: “Referências Bibliográficas”.
3 = citação extraída da entrevista de Rodrigo Santoro, veja: “Referências Bibliográficas”.
4 = ideia extraída da entrevista de Rodrigo Santoro e transcrevida, veja: “Referências Bibliográficas”.
5 = ideia criada com base na entrevista de Luiz Bolognesi, veja: “Referências Bibliográficas”.
6 = citação extraída da entrevista de Laís Bodanzky, veja: “Referências Bibliográficas”.
Referências Bibliográficas:
SANTORO, Rodrigo; BODANZKY, Laís; BOLOGNESI, Luiz. Entrevistas: “Qual é o barato”, por Paloma Klisys. [S.L.], “Bicho de Sete Cabeças”. Disponível em: https://www.educacional.com.br/reportagens/drogas/bicho.asp. Acesso em: 28 de fev./ 2011.
(Resenha Crítica elaborada em 2012, UNOCHAPECÓ, São Lourenço do Oeste).