Produção Textual acerca das Gravuras de Quino
O mundo capitalista e globalizado atual vive em uma crise. Ou, crises. Não, tão-somente, econômica. Mas, também, no âmbito societal, da sociedade, em geral. Bem como as relações humanas e o ‘descarte’ destas. São problemas naturalizados a precariedade da educação, da saúde, do meio ambiente e a desigualdade social dentro de uma mesma pátria.
O ser humano é, realmente, vaidoso. Preocupa-se, por demais, com o ter. Esquece, comumente, o ser. Ter o carro novo do ano, a roupa diferente que está na moda, o celular multifuncional que está em lançamento e grandes fardos de grana, ao bel-prazer. Não há imaginação, sonhos, no sentido de transformação através das faculdades criativas do ser. O que predomina é o querer. O querer sempre é antecessivo ao ter. Nunca se satisfaz facilmente.
No Brasil, por exemplo, há casas com garagens para, em média, de três à quatro carros. Cada membro da família tem seu próprio automóvel. Sai, cada qual, para o seu trabalho, para o seu lazer, para a sua viagem. E o outro? Experimenta telefonar para saber! Ou, melhor, nem liga! As condições de sociabilidade estão enfraquecendo cada vez mais. Até mesmo, a um individualismo.
Há exigências exacerbadas, quando o papo é capitalismo. Enquanto uma parcela das pessoas vivem sob condições precárias e baixíssimas de vida, a outra parcela moram em casas luxuosas, à compatibilidade hollywoodiana. E, além disso, com um séquito de serviçais à disposição... faxineira, cozinheira, jardineiro, cabeleireiro, manicure, etc. A desigualdade financeira e social é, extremamente, grande e preocupante.
Vivemos em um cenário de profunda anarquia. Nem sempre física. Mas, enfaticamente civilizatória, da forma de organização social, amplamente falando, como um todo. As instituições públicas e/ou sociais, responsáveis por gerir e estabelecer ordem, estão prestes “à cair”, pouco a pouco. Os padrões atuais de vida mudaram. São outros.
A família ganhou uma nova configuração social e a autonomia de cada um de seus membros se modificou. Uma família clássica constituía-se de pai, mãe e filhos. Uma família de configurações modernas compreende um conjunto de pessoas com laços de vínculo, geralmente sob o mesmo teto. Ou seja: já não importa se somos ou não, da mesma consanguinidade, descendente. Semelhantemente, também ocorre com outras instituições sociais.
As crises políticas parecem entristecer as pessoas. Há um gosto, imbuído na política, de transgressão dos bons costumes e do tradicionalismo. Incrivelmente, partidos políticos existem em grande número. Ao ponto que seria complicado e trabalhoso, contatá-los e listá-los todos. Mesmo faltando pontualidade, planejamento e ideias substancialmente precisas de democracia, por parte de seus precursores. Isso para a concretização, do ‘poder do povo’ e os recursos públicos, na prática ativa e adequada às necessidades.
O atual sistema educacional é falho. Este sistema de educação, que temos instalado na contemporaneidade, não está transformando as pessoas. Nem, sequer, como cidadãs, como seres que sentem, pensam e agem conscientemente no mundo. O modelo faz é lapidar o ser humano e embutir determinado conformismo para o mercado de trabalho e para os interesses da alta sociedade. Não para o bom desenvolvimento das potencialidades do sujeito.
A educação, com o passar do tempo, tornou-se mais fragmentável. Os ramos do saber e profissão buscam se especializar, cada vez mais, em “sua área”. De modo que, se fôssemos à um hospital, encontraríamos um médico para cada parte minúscula do corpo. A unidade do conhecimento está sendo deixado de lado.
Os especialistas sabem cada vez mais, de menos coisas. Isso não significa ser necessariamente algo negativo. Muito pelo contrário. Mas, essa tão rápida evolução do cotidiano atual é absurda. Muitas vezes não temos, sequer, condições adequadas de acompanhar tal processo. Pois, é preciso – não somente evoluir – mas também poder assimilar e estruturar psiquicamente este conhecimento. Efetivando-o.
Os problemas ambientais, provocados pelo homem, também são degradantes. Há uma enorme necessidade, por parte do capital, de transformar a fauna e a flora, de desmatar florestas, abater espécies de bichos já ameaçados à extinção e soltar gases tóxicos na atmosfera. E, ainda na ótica do capitalismo, tudo isso e mais ainda, é “necessário”. Talvez, com isso, se as pessoas se conscientizassem em não consumir tanto, esbanjadamente, os recursos naturais este problema diminuiria, quantitativamente.
Nossa sociedade contemporânea utiliza uma quantidade enlouquecedora de remédios. A educação tem um papel importante neste sentido e, até mesmo, libertador. Na transformação da dura realidade que nos cerca. Assim como a educação pode e deve reconstituir processualmente os laços sociais e condições melhores de sociabilidade, diante desta sociedade abusivamente (auto) medicalizada. Tal como por meio da conscientização dos indivíduos.
Nem todas as pessoas têm possibilidades de estudos superiores. As pessoas de alta renda geralmente começam a trabalhar somente depois dos vinte e cinco anos de idade. As de baixa renda são obrigadas a iniciarem a trabalhar cerca de quinze anos de idade. As instituições de economia, naturalmente, buscam não proporcionar trabalho às pessoas de baixa renda e, nem mesmo também, a educação. Fator injusto, este. Um indivíduo de baixa renda, geralmente só estuda quando tem trabalho. Existe democracia? Claro que não. Contanto, dever-se-ia haver igualdade. Bem como de oportunidades.
Esse é o Estado somente de ricos e ‘burgueses’. O Estado, precisamente brasileiro, está dominado pelas grandes empresas e corporações internacionais. Para pensarmos em educação, precisamos antes, pensar nos fatores que desencadeiam o analfabetismo no Brasil e as não-possibilidades que dificultam um sujeito de ter acesso à educação superior. Não basta somente o Estado doar bolsas de inúmeros benefícios escolares e/ou acadêmicos. Ademais, é necessário o Estado pensar também na saúde, na habitação ou moradia, na alimentação, no lazer e em outras questões que promovam condições favoráveis e bem-estar para o sujeito.
(Produção Textual elaborada em 2013, UNCHAPECÓ, São Lourenço do Oeste).