Práticas de Observação em Psicologia
A partir da Prática Acompanhada em Observação II realizada no 3º semestre do curso de Psicologia, apresentaremos os respectivos espaços observados em breves relatos e desenvolvendo produções e análises teóricas acerca dos diversos contextos de acordo com um olhar dialógico e com base nos estudos que foram trabalhados neste período.
Para que possamos conhecer a forma com que as relações se desenvolvem em seus mais variados ambientes, deve-se levar em conta as complexidades do meio com uma visão de agente histórico e/ou cultural e os sujeitos que o constituem, sua subjetividade e individualidade como determinantes no processo de estabelecer e de construir gradativamente dessas relações.
Como ponto de partida, na prática de observação, é necessário ter um olhar crítico e abrangente a respeito das situações e circunstâncias vivenciadas. Faz-se o uso atento da percepção e aprende-se entrosando e interagindo em um processo dinâmico com a realidade e os sujeitos e/ou objetos que permeiam essa realidade, considerando a cultura predominante destes sujeitos como parte integral do todo ou de sua maioria, afirma Lapassade (2001-1992).
Os fenômenos sociais são, assim, justificados em razões de suas relações com a realidade ou lugar em que estão inseridos, para que seja possível entender seus comportamentos individuais em geral.
À vista disso, a observação permite obter uma concepção das questões sociais e maior visão das relações existentes em determinado ambiente, possibilitando correlacionar e articular os estudos teóricos de Psicologia com a realidade prática experienciada.
A Prática Acompanhada em Observação foi realizada em instituições diferentes entre si: em uma escola do munícipio de São Lourenço do Oeste e em uma unidade de saúde, de Campo-Erê. Descreveremos ambas as práticas, relacionando-as quando necessário e dialogando.
Esse processo de conhecer o meio observado, ocorreu através da observação participante. Segundo Silveira (2003), a observação participante é a interatividade entre o observador e o ambiente de observação, seu contexto histórico-cultural dos indivíduos e suas relações.
A observação no âmbito da educação e da saúde teve como objetivo central a percepção e a compreensão do meio e suas manifestações e, em suma, uma visão de perspectiva ativa.
Neste sentido, fizemos o uso de uma observação flutuante, isto não-focalizada em um único caso, fato ou questão. Uma maneira de observação que buscou observar todo o ambiente: ”Prestar igual atenção a tudo” (KASTRUP, 2007. p. 16).
Kastrup (2007), diz que a não-focalização possibilita a percepção de todo um aparato que ocorre no local, não somente os assuntos conexos e sincronizáveis, mas também muitos outros que ocasionalmente estão incompletos e sem conexões visíveis.
Na primeira visita à instituição da educação foi estimulante. Quando ocorreu a primeira conversa com a diretora, esta criticou a Prática Acompanhada em Observação com permanência em uma única sala de aula, ela sugeriu o contrário, uma espécie de “rodízio” em diversas salas. Conhecendo então, não só uma única realidade, mas muitas outras, em diferentes contextos de relações sociais entre os estudantes da escola e a escola em si com toda a sua diversidade.
Já o primeiro contato com a instituição da saúde foi um momento delicado e ao mesmo tempo desafiante. O gestor da Unidade Básica de Saúde sugeriu fazer a Prática Acompanhada em Observação em dias intercalados, onde possibilitaria adquirir uma visão mais abrangente e diversificada frente à grande demanda do público que procuram por atendimentos especializados e/ou encaminhamentos.
De acordo com nossa capacidade de pensamento, segundo as autoras Tomelin e Tomelin (2004), sempre estamos interpretando o que vemos, ouvimos, sentimos e tateamos, nesse processo de interpretação de nossas impressões, marcas essas deixadas pelos sujeitos e/ou objetos que interagiram conosco. As impressões são nossas sensações de acordo com as nossas interpretações, que atribuímos significados, obtendo certa percepção subjetiva da realidade de determinado contexto.
Na educação, foi possível encontrar dificuldades de aprendizagem em muitas crianças. Também, algo comum era a influencia de comportamentos de outros colegas. Quando um indivíduo incorporava um comportamento diferente do grupo ou das pessoas que se encontravam naquele mesmo e determinado local, a maior parte desses indivíduos também o adotava.
Segundo os autores Bock, Furtado e Teixeira (1994), para Vygotsky o desenvolvimento do indivíduo está ligado ao plano das interações sociais. O sujeito incorpora uma ação que tem inicialmente um significado partilhado ou coletivo. A linguagem criada na interação passa a exercer influência sobre outros sujeitos a partir das suas relações sociais.
Desta maneira, de acordo com Bock, Furtado e Teixeira (1994), Vygotsky afirma que as funções psicológicas emergem e se consolidam no plano das ações entre sujeitos e passam a ser internalizadas, constituindo seu funcionamento interno, onde as relações sociais são vistas como construtivas das funções psíquicas e cognitivas do indivíduo. Além disso, segundo Vygotsky, Moll (1996) argumenta que a imitação é um passo importante para o desenvolvimento do sujeito e suas estruturas psíquicas.
Com base nos autores Liebesny e Mortara (2003), para a Psicologia Sócio-histórica a identidade de um indivíduo é construída também a partir do outro, pois é na relação social que se constroem os valores e os limites das ações que concretizam esses valores. Deste modo, a identidade é constituída no seu processo de socialização, onde é possível obter determinada transformação.
Para Piaget, diz Piletti (1993), a criança desenvolve a capacidade de raciocínio, pensamento e reflexão somente entre os 02 a 07 anos de idade, durante o período pré-operatório, onde ocorre o aparecimento da linguagem, acarretando modificações nos aspectos intelectual, afetivo e social do indivíduo.
Ao nascermos nos encontramos inseridos em um determinado ambiente social, em um conjunto de relações constituídas e em processo de constituição continua, onde somos alimentados a partir de conhecimentos, valores, crenças, que viabilizam nossa constituição como sujeito ao longo da vida. À medida do tempo que crescemos as instituições sociais, como por exemplo, a família e a escola, vão moldando uma identidade sobre nós, segundo Schneider (2005).
Piletti (1993) fala que o desenvolvimento do indivíduo implica em receber influências do ambiente ao nosso redor, onde essas influências acabam por modelar nosso comportamento, ao mesmo tempo em que desenvolvemos nossa própria identidade.
Nas ideias de Schneider (2005), a criança não nasce com capacidade psicológica para reflexão, ela não tem uma personalidade definida e suas primeiras relações que estabelece com o ambiente que a cerca são espontâneas. Somente mais tarde, ao desenvolvimento de relações com o mundo, que aprenderá a refletir e abstrair.
No entanto, diz Campos (1997) que para Wallon a origem do raciocínio e do intelecto é biológica e social. Isto é, o sujeito é organicamente social e sua estrutura orgânica supõe a intervenção da cultura, ocorrendo entre o estágio Sensório-motor e projetivo até o Personalismo, e deste até os outros estágios sucessivos em seu desenvolvimento.
O desenvolvimento infantil ocorre quando a criança se envolve com o ambiente físico e social. Bronfenbrenner (1996) fala que a família precisa estar adaptada às mudanças, por exemplo, quando a família recebe um novo membro, este precisa adaptar-se as novas regras, e ao mesmo tempo, a família precisa se adaptar também para poder incluí-lo.
Havia também alunos portadores de deficiência em alguns dos locais observados, como por exemplo, principalmente Síndrome de Down e Dislexia. Notamos que nem todos os professores se importavam com a aprendizagem e/ou a atenção aumentada para com esses alunos.
De acordo com Moll (1996), Vygotsky diz que o professor possui um papel ativo no desenvolvimento e na aprendizagem do aluno. Esse papel do professor deve ser capaz de desafiar e provocar estímulos no aluno para que este se sinta cada vez mais hábil na realização das tarefas, muitas das quais ele considerava como sendo difíceis.
Inegavelmente, é importantíssimo avaliar os e ajudá-los na solução de seus problemas. Como forma dos alunos obterem uma aprendizagem melhor e qualificada, como por exemplo, um indivíduo com necessidades especiais, afirma Vygotsky, precisa de uma aprendizagem que possa levar à cabo as mais variadas maneiras de trabalhar o conteúdo proposto, devido sua deficiência, deve-se estimular diversos sentidos para com o seu desenvolvimento cognitivo, facilitando o processo de conhecimento e assimilação.
Em relação à deficiência, como a visual e a auditiva, segundo Moll (1996), Vygotsky teoriza também que o professor deve agir de uma maneira diferente com cada aluno, de acordo com os problemas ou dificuldades maiores que o indivíduo apresenta.
Nesta mesma linha de raciocínio, os alunos deficientes devem usar seus sentidos sadios para compreenderem o mundo, ou seja, os alunos devem usar seus sentidos normais para compensarem seus sentidos perdidos, tais como a visão e a audição.
Durante o processo de observação na escola, pode-se observar que os professores tentavam esconder a realidade do local, trazendo uma visão idealista de “turma perfeita” ou “sem problemas”.
Eventos que ocorreram frequentemente em todas as salas, eram as mudanças de lugares no ambiente da sala com a presença de um observador, por parte da professora da classe, dispondo aleatoriamente os indivíduos que conversavam acima do esperado ou que haviam algum comportamento adverso à vontade da professora.
Havia uma visão entre alguns professores de massificação dos alunos (assim como entre alguns profissionais de saúde para com o público) como se todos fossem iguais, em uma padronização de seus comportamentos e personalidades, enquadrando em um padrão estabelecido socialmente e desconsiderando suas particularidades, subjetividade, cultura e contexto familiar.
Esse padrão estabelecido pela sociedade, conforme Lins (1997), Rolnik o chama de ‘kit perfil-padrão’ que pulveriza e mistura as identidades de acordo com cada órbita de mercado. Nesta lógica, para serem “consumidas pelo mercado” e como fator resultante da globalização independe de região, contexto, cultura.
Deste modo, as suas próprias identidades desaparecem para dar lugar a identidades impostas, globalizadas e/ou massificadas, ficando esta encoberta por máscaras a propósitos da sociedade capitalista.
Um bom exemplo que ocorreu, foi em certo período quando a professora de um dos espaços resolveu dar uma saída durante a aula e, ao voltar, deparou-se com seus alunos fora das carteiras, isso foi motivo para ficar furiosa. A professora falou rapidamente palavras como: “Que vergonha! É isso que vocês querem mostrar para esses tios?”, estabelecendo uma relação de poder e controle entre ela e as crianças.
Liebesny e Mortara (2003) enfatizam que desde a Antiguidade, o homem vem adquirindo e construindo certos costumes de convivência, de acordo com a época histórica e o contexto social de cada cultura.
Esses costumes servem para a manutenção dos grupos sociais, carregando valores que apontam deveres, e que concebem como adequados aos seus objetivos individuais e coletivos, definindo como regra, norma e/ou lei, cujas são determinadas pelos interesses e necessidades de tal sociedade, principalmente de grupos dominantes.
Houve ainda em alguns casos observados, que alguns professores não permitiam a livre-expressão dos alunos durante as aulas e atividades, muitas vezes reprimindo-os, em seus comportamentos espontâneos, como forma clara de controle dos mesmos.
Curiosamente, segundo Thompson (1995), Marx fala que ideologia é definida com sendo as ideias da classe dominante impostas sobre a classe dominada. Ou seja, para o marxismo a professora citada acima profere aos alunos ideologicamente, com ideias e pensamentos com intenções de dominá-los.
Estavam presentes também, discursos psicológicos voltados a uma representação social mecanicista e maniqueísta da forma de ensino-aprendizagem, os quais contribuíam na exposição de uma linha de pensamento distante da respeitabilidade com o social e ética profissional desses professores.
Por exemplo, um caso de uma professora falou que iria aplicar avaliação para testar como estava o desenvolvimento de sua turma, mas em si, disse ela “(...) eu sei quem sabe, quem é dedicado e quem faz ou não as atividades (...). Eu sei de um por um, aqueles que são bons”, com uma visão limitativa, baseada na lógica matemática, como se nem todos os alunos tivessem capacidade de aprender.
Todavia também, entre alguns profissionais de saúde, em certos momentos não havia sincronia em suas relações. Havendo uma tendência em apresentar certas dificuldades no entrosamento com a própria equipe profissional. Por essa razão, esses profissionais cometiam pequenos “equívocos” por falta de informações básicas e explicações a alguns, ou vários, pacientes.
Para os autores Liebesny e Mortara (2003), o comportamento do sujeito é ético quando age conscientemente, e esse ato de reflexão consciente resulta das relações sociais em que se insere. Na construção do comportamento ético, o sujeito informa-se sobre a situação, consulta normas estabelecidas, reflete sobre essas normas, toma decisão para agir e analisa seus próprios atos.
A ética, segundo Rios (1995), busca os fundamentos dos valores que determinam uma moral, com o objetivo de compreendê-la a partir de sua gênese e da finalidade que ela propõe para a sociedade em que se constituiu. A moral e a ética são inseparáveis, a moral é o conjunto de princípios que norteiam as ações enquanto a ética é a reflexão crítica sobre esses princípios. Pois quando refletimos sobre nossas ações diante desse conjunto de princípios norteadores, estamos falando de ética e moral ao mesmo tempo.
Entretanto, muitas vezes esses discursos eram ideologicamente no sentido negativo, como fala Guareschi (1998), pois eram discursos com ideias distorcidas da realidade, as quais tornavam-se portas para a agressão moral com os alunos.
A internalização das regras morais resulta da reflexão e do posicionamento do sujeito em relação aos valores sociais. Através do comportamento reflexivo concretizamos ações sobre a realidade, as quais devem se basear no interesse coletivo e no compromisso com a prática em si, dizem Liebesny e Mortara (2003).
A ética não traz respostas prontas, mas possibilita a reflexão e tomada de posição do indivíduo, que implica na ação e na responsabilidade por suas consequências, como uma construção social objetiva que passa a constituir a subjetividade do indivíduo.
À exemplo disso, percebe-se que alguns agentes de saúde e professores expressavam um pensamento ideológico de “higienização” social, isto é, uma concepção de “limpar” os indivíduos com problemas de saúde e aqueles que eram incongruentes às normas impostas em determinado meio, com práticas voltadas para a discriminação social, insensibilidade às relações e uma conduta exacerbada e agressora, com base em uma metodologia de trabalho tradicional e/ou histórico.
Os autores Amstalden, Hoffmann e Monteiro (2010), falam que a política histórica de saúde mental do Brasil diz respeito à prática institucionalizante e de cunho histórica baseada numa lógica de higienização e num ideal de proteção que reforçaram o abandono e a exclusão das crianças e adolescentes.
Vale mencionar que Dalgalarrondo (2000), diz que não há uma classificação em absoluto sobre o normal e o patológico, visto que os mesmos são conceitos muito relativos, depende muito de cada cultura e suas visões de mundo. O que pode acontecer (e que geralmente ocorre) é o fato de tender ou beirar mais para o patológico do que para o normal, ou vice-versa.
Em contraposição, existiam também profissionais que priorizavam a dedicação aos alunos com problemas em aprendizagem, dando atenção necessária, estimulando seu ambiente e instruindo as habilidades cognitivas dos mesmos, de modo a aumentar seu desempenho nas atividades e motivando-os ‘per si’.
Como também, nos atendimentos de saúde, a relação de alguns agentes profissionais com os pacientes, os quais focavam-se no bem-estar – na promoção, prevenção e reabilitação dos mesmos, com o objetivo de proporcionar atendimentos de qualidade.
Alguns dos professores trabalhavam cada conteúdo se baseando nos sentidos sensoperceptivos, como a pintura que faz uso do sentido visual, as explicações e falas dos mediadores que faz uso do sentido auditivo, a confecção de objetos e/ou habilidade palpável que faz uso da psicomotricidade do aluno.
Bronfenbrenner (1996) diz que a capacidade para o aluno aprender a ler, depende muito de como ele foi se desenvolvendo ao decorrer da vida, suas condições de saúde e seus laços entre a família e a escola. Pois o aluno se encontra também em um ciclo de vida familiar, em que ele tem que se adaptar aos novos hábitos sociais que vem surgindo com seu desenvolvimento.
Podemos dizer que ele participa em um padrão de atividades, em um determinado momento com características físicas e materiais especificas. O ser humano, toriza Bronfenbrenner (1996), encontra-se inserido em um conjunto de sistemas, os quais são constituídos a partir de sua rede social desde a infância, contribuindo para a construção de sua própria identidade como sujeito.
Deve-se conceber o indivíduo como um ser social, que estabelece relação com outros seres, que transforma e é transformado pelo ambiente que os cerca. Essas transformações, diz Liebesny e Mortara (2003), permitem o desenvolvimento da consciência e da sua própria existência como sujeito, as quais têm bases reais, expressando-se por um conjunto de ideias e concepções políticas, morais, religiosas, filosóficas, através de uma atividade construída.
É essencial que a psicologia esteja cada vez mais abrangente, nos mais variados espaços ou locais, e interagindo com outros campos de saber numa equipe multiprofissional, com o objetivo de buscar compreender as diferenças e desencontros sociais.
Como por exemplo, o individualismo, os problemas sociais e a crise de identidade na sociedade contemporânea, dentro de diversas instituições como principalmente na educação e na saúde, as quais promovem a produção do saber científico e o bem-estar biológico, psíquico e social aos sujeitos.
Há buscas de novas formas de sistemas assistenciais em saúde e maneiras de educação para que sejam ativas e qualificadas em suas áreas, capazes de analisar, compreender as pessoas e atendê-las de acordo com suas precisões.
Como dizem os autores Amstalden, Hoffmann e Monteiro (2010), saúde mental é algo que vai muito além da ausência de transtornos psíquicos. Saúde mental também é o bem-estar subjetivo, a autoeficácia, a autonomia, a competência, a autorrealização do potencial intelectual e emocional do indivíduo como um todo.
Nesta perspectiva, para que as pessoas se tornem mais consciente da importância de promover, prevenir e restabelecer as condições de saúde e a qualidade do ensino e aprendizagem na educação. Para isso, é necessário construir novos indicadores de avaliação, novos sistemas de informação capazes de dar conta das novas práticas.
O objetivo da Psicologia é possibilitar a promoção de saúde, vinculada em uma condição de saber e prática, de modo estar comprometida com a sociedade na qual se constrói e concretiza, em um caráter coletivo. Segundo Liebesny e Mortara (2003), a ação psicológica tem uma intencionalidade que se baseia em um sujeito ativo, crítico, reflexivo, promovendo a possibilidade de apropriação de sua realidade e encaminhando suas ações aos sujeitos em suas condições de saúde.
Para que haja a compreensão do sentido da ação humana, é preciso concebê-la suas ações, como atreladas a um processo de desenvolvimento histórico, avaliando dentro de um contexto circunstancial que se produziu. Nesta lógica, Liebesny e Mortara (2003) falam que Psicologia se concretiza em conhecer a subjetividade humana nas atividades profissionais, a qual implica na construção de projeto profissional, tal como a observação acadêmica, com compromisso em desenvolver a crítica sobre a realidade na qual atua e constitui os objetivos e práticas para sua concretização.
Contanto, quando chegamos ao término das observações estávamos com outra visão das instituições e das relações sociais. Isso aconteceu através das vivências que fizemos parte, tanto na educação quanto na saúde, as quais se encontram em constante construção e ao mesmo tempo sofrem modificações por motivos das situações ocorrentes em seu andamento ao longo do percurso nas suas mediações e atendimentos.
Tivemos o privilégio de estar em contato com as mais diferentes situações, onde nos possibilitou acompanhar diversos casos somando às experiências da nossa bagagem acadêmica, bem como deste semestre, relacionando-o de acordo com os vários contextos sociais observados no âmbito da saúde e da educação.
Ademais, necessitamos conhecer, analisar e interpretar as diversas relações desenvolvidas nas instituições observadas para que, de fato, contribua com nosso desempenho acadêmico. Esse momento de observação nas instituições nos possibilitou a perceber o quanto é importante e instigante o olhar científico ou universitário sobre a realidade factual vivida, poder observar as interações em sociedade por uma nova ótica: crítica, reflexiva e clara, frente à diversidade social.
Assim, podemos tirar nossas próprias conclusões onde cada ser é único e deve estar em constantes buscas de saberes e conhecimentos e na melhoria da qualidade de vida, pois essas são as metas-base para a aprendizagem, no decorrer do nosso desenvolvimento em adquirir novos conceitos sobre a realidade que nos cerca.
Contudo, deve-se possibilitar a ressignificação e a construção de novos sentidos e ações que configurem e estabeleçam um compromisso com o ser humano, que haja uma relação direta e interligada entre as áreas da saúde e da educação, com uma preocupação vital entre ambas, atendendo as demandas na direção que propicie conhecimento e bem-estar a toda a sociedade, não somente parte dela ou isoladamente.
Observar é uma coisa, ver ou enxergar é outra bem diferente. Quem vê teve que aprender a ver, a interpretar o que estava sendo observado. Explicações e descrições resultantes da observação (científica ou não) serão sempre o resultado do domínio de uma linguagem teórica e serão tão rigorosas quanto a teoria utilizada e seus conceitos assim o permitirem. (Chalmers, p. 54).
Considerações Finais
Este trabalho que realizamos ao longo de nossos estágios de Prática Acompanhada em Observação II e durante o nosso desenvolvimento enquanto acadêmicos e futuros profissionais de Psicologia nos propomos a dar continuidade às novas buscas que apontem diversas outras reflexões, na tentativa de conhecer e entender as relações como elas se estabelecem e se desenvolvem e os seus desafios a serem vivenciados a cada nova situação frente a realidade social.
As mudanças e inovações nas últimas décadas requerem profissionais mais críticos, capacitados e atuantes na sociedade. Percebemos à falta de diversos profissionais em algumas áreas e instituições. Constatamos ainda nas determinadas instituições observadas marcas e resquícios de práticas fragmentadas e desorganizadas na forma de mediar às relações.
A exigência da sociedade frente aos avanços tecnológicos e as transformações econômicas e culturais dão ênfase cada vez mais a necessidade das instituições em voltar-se cada vez mais a promoção do bem-estar social e da produção do conhecimento, exigindo uma postura mais dinâmica frente à realidade.
Em nossas Práticas Acompanhadas em Observação II, constatamos a importância da observação científica como um instrumento de obter conhecimento sobre determinado contexto social. Quando observamos, tentamos guardar e internalizar momentos vividos que foram significativos, para mantê-los vivos, não somente como lembrança, mas como registro parte da nossa historia.
Consideramos nossas experiências da Prática Acompanhada em Observação como sendo muito contribuidoras ao processo de desenvolvimento em Psicologia. Temos consciência que este foi apenas o grande início de um longo caminho a ser percorrido na busca de novos conhecimentos para compreendermos as complexidades da realidade que envolve os sujeitos.
Assim, mostrando que é possível transformar o ambiente social em um local repleto de novas possibilidades. Pois, conhecer, entender, compreender, fazer surgir o diferente é originar o novo, é reabilitar e recriar, é encontrar algo que oportunize novas descobertas e desafios em Psicologia.
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(Artigo elaborado em 2011, UNOCHAPECÓ, São Lourenço do Oeste).