Análise Institucional, Intervenção Psicológica e Instituições

19/06/2012 20:27

Conceito de Instituição:

 

            O conceito de Instituição está presente em vários campos, como por exemplo, na sociologia, na antropologia, nas ciências políticas e na filosofia. De acordo com Baremblitt, as instituições são ‘árvores de composições lógicas’ que, a partir do formato e do nível de formalização que adotam, podem ser leis, normas e, quando não enunciadas em sentido manifesto, também pautas, em regular os comportamentos (BAREMBLITT, 1992, p. 27).

             Neste sentido, as instituições seriam jurisdições de saber, onde possibilitaria reconstituir as relações sociais, organizar espaços e recortar limites. A partir do momento em que há uma prevalência do instituído, as instituições e seus estabelecimentos capturam os processos de subjetivação singulares, impondo-lhes seu próprio modelo.

             Já, quando emergem as forças instituintes, há a possibilidade de produzir novos agenciamentos, novas composições e arranjos próprios de subjetividades livres e desejantes. Para que o desejo possa servir à espécie humana e ao esforço civilizatório, ele precisa ser institucionalizado – ir contra o estado de desamparo à condição humana.

             A Instituição degrada-se quando sua estrutura põe-se a serviço, não do desejo, mas de privilégios, antiproduções e iniqüidades, assim, perdendo seu sentido original e transformando-se num instrumento destruidor de liberdades democráticas. A instituição desvirtuada de seu propósito trabalhará para o avesso da liberdade: a servidão. A imposição unilateral de normas rígidas pode sacrificar, em nome de uma identidade narcisista, a própria razão de ser comunitária – que são as pessoas com seus desejos.

             Ademais, o desejo é visto como potência de transformação. Entende-se que o inconsciente é posto a se mover por uma força desejante que o coloca em constante movimento e mutação. Como fala Deleuze e Guattari (1996), “A questão não é nunca reduzir o inconsciente, interpretá-lo ou fazê-lo significar. A questão é produzir inconsciente e, com ele, novos enunciados, outros desejos: o rizoma é esta produção de inconsciente mesmo” (DELEUZE & GUATTARI, p. 28).

             Assim, o movimento dialético entre instituído e instituinte e, também, com a institucionalização, contribui para que ele seja uma realidade inacabada e em construção, numa relação de forças permanentes, que comportam tanto o poder como as singularidades de resistência e produção de novos sentidos. À beira do espaço instituído, debate-se o espaço instituinte, o qual, este último, é imprevisível e inexato.

 

Movimento Institucionalista:

 

            O Movimento Institucionalista abrange um conjunto de teorias e práticas que tem por objetivo em comum a produção de rupturas nas instituições sociais, a partir do processo instituinte. Como consequência, criando novas instituições e maneiras de organização social, que se constituem em proposições permanentes, com dispositivos inéditos, fluídicos e desenquadrados, visando, através da sua operação, a autogestão das organizações.

             Outro aspecto, dentro do Movimento Institucionalista, é dar espaço de expressão aos movimentos sociais reprimidos ou desconsiderados na sociedade, tais como as mulheres, os negros, os gays, os nativos e as pessoas em situações de vulnerabilidade e/ou pobreza. Todavia, o movimento instituinte é uma contraposição ao que está instituído – a instituição, desenvolvendo então, o processo de institucionalização. Este é o movimento dialético que surge na instituição.

 

Intervenção Psicológica Conforme a Análise Institucional:

 

            Os principais conceitos que servem como ferramentas de intervenção nas ações coletivas são a reconceituação de grupo e de instituição, a análise das demandas, os analisadores históricos ou construídos e a análise da transversalidade e das implicações. Por grupo entende-se como o conjunto de pessoas organizadas pelos processos que se constituem entre elas e a partir delas no exercício permanente de buscar sentido para o desdobramento das ações e para o significado de si próprio.

            As instituições não são compreendidas como estabelecimentos ou estruturas organizacionais, mas se constituem em práticas sócio-historicamente produzidas, trazendo, assim, a dimensão dos valores, das tradições, da referência das ações que no cotidiano são naturalizados e tomados como verdades absolutas, universalizados. O sentido de cotidiano, para a Análise Institucional, está implicado com a dimensão das mudanças.

            No entanto, a vida cotidiana, onde as práticas são tecidas, não pode ser considerada como uma totalidade fechada em si mesma e nem desenvolvida através de relações de determinação linear com a globalidade hegemônica e com os valores dominantes. Antes que ganhe consistência, é fundamental que pela análise coletiva, seja intensificado, aglutinando as ações fragmentárias e descontínuas, imprimindo novos sentidos à realidade.

             É importante a construção de um campo de análise institucional, ou seja, a organização de conhecimentos históricos, políticos e conjunturais acerca do campo de intervenção no qual buscamos desenvolver um processo de investigação. A partir do estabelecimento coletivo de um projeto de trabalho, a pesquisa-intervenção tem início através de dispositivos mobilizadores.

              Durante todo o processo é fundamental uma participação ativa da comunidade implicada na análise da micropolítica ali produzida, explicitada nos seus movimentos, problemáticas, formas de ação e processos sociais. O campo de intervenção se constitui como tal no momento em que as experiências locais são possíveis de serem analisadas por parte da contextualização sócio-histórico-política.

              A análise das implicações busca dar visibilidade às relações dos participantes, incluindo o próprio grupo de analistas, com as instituições que se atualizam na intervenção. Desenvolve-se na perspectiva de transversalizar as análises, de iluminar as instituições atravessadas nas práticas enquanto uma superação do limite da análise da verticalidade: relações sociais institucionalizadas e funcionais, e da análise da horizontalidade: relações imediatas, informais e nos diferentes estratos.

            O Movimento da Análise Institucional tem como proposição estabelecer um processo autogestacional, entendendo que autonomia é um exercício permanente de análise e compreensão das condições em que se realiza a ação e, desta maneira, dos seus limites e possibilidades. A pesquisa-intervenção  traz como proposta criar dispositivos de análise dos grupos na sua diversidade qualitativa, focando-se nas rupturas que as ações individuais e coletivas exprimem no cotidiano.

 

 

Referências Bibliográficas:

 

PAULON, Simone M. Instituição e Intervenção Institucional: percurso conceitual e percalços metodológicos. In: Mnemosine. Brasil: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, v. 5, n. 2, 2009, p. 189-226.

 

 

(Artigo elaborado em 2012, UNOCHAPECÓ, São Lourenço do Oeste).

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