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Síntese de "Retornando à Patologia para Justificar a Não-Aprendizagem Escolar: a medicalização e o diagnóstico de transtornos de aprendizagem em tempos de neoliberalismo"
19/06/2012 19:22SOUZA, Marilene P. R. de. Retornando à Patologia para Justificar a não Aprendizagem Escolar: a medicalização e o diagnóstico de transtornos de aprendizagem em tempos de neoliberalismo. In: CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA, São Paulo. Medicalização de Crianças e Adolescentes: conflitos silenciados pela redução de questões sociais a doenças de indivíduos. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1ª ed., 2010.
O desenvolvimento de debates e discursos a respeito das Políticas Públicas, dentro do âmbito da Psicologia, é atual. Na Psicologia Escolar tem sido possível a partir do momento em que esta passou a ser questionada, bem como suas bases epistemológicas e seus objetivos.
As críticas se baseavam na perspectiva de que a atuação profissional do psicólogo, na área da educação, avançava pouco em questões de melhoria da qualidade da escola e dos benefícios que ela deveria propiciar, principalmente em relação às crianças de classes mais baixas, destacando a carência cultural como agente influente no desempenho escolar.
A medida que as discussões do campo da psicologia com a área da educação, a Psicologia Escolar e Educacional iniciaram pesquisas relativas ao fracasso escolar, como um novo objeto de estudo dentro da psicologia. Isso gerou uma centralização de estudos referentes sobre a escola, tanto na psicologia quanto na educação.
Patto (1990), em “A Produção do Fracasso Escolar: histórias de submissão e de rebeldia”, explica através de demonstrações com base no Movimento de Higiene Mental e na Medicina, como esta última passou a se relacionar com as teorias psicológicas, desenvolvendo-se uma das correntes para explicar as dificuldades de aprendizagem, centrada nos distúrbios orgânicos e disfunções.
O processo de escolarização se constitui por meio de condições objetivas e sólidas, que possibilitam, ou não, que a escola possa cumprir com suas metas. Os fatores psicológicos são fragmentos da escola, os quais se fazem presentes nas diversas relações que se desenvolvem no processo pedagógico e institucional.
A Psicologia Escolar, ao levar em conta o processo de escolarização, enfatiza que a escola é o espaço em que ocorrem as relações sociais e individuais, articulando-se em uma rede complexa de relações que necessitam ser analisadas como tais.
Os objetivos da atuação profissional do psicólogo no âmbito da educação devem estar voltados no compromisso com a luta por uma escola democrática, qualitativa e que garanta os direitos de cidadania às crianças, adolescentes e profissionais da educação, pautando-se na participação conjunta e, assim, romper com o fracasso escolar.
Neste sentido, deve contribuir para o bem-estar, a aprendizagem, a superação dos obstáculos e a promoção do autoconhecimento, a fim de possibilitar ações no meio em que vivem. Por fim, visando também contribuir para a realização profissional dos professores, tal como em sua competência técnica, enaltecendo a conscientização acerca da prática pedagógica.
(Síntese elaborada em 2012, UNOCHAPECÓ, São Lourenço do Oeste).
Síntese Categórica de "A Avaliação e a Instituição Escolar"
19/06/2012 19:17WEISS, Maria Lúcia Lemme. A Avaliação e a Instituição Escolar. In: OLIVEIRA, Vera B.; BOSSA, Nádia (Org.) Avaliação Psicopedagógica da Criança (de Sete a Onze anos). 7ª ed., Petrópolis: Vozes, 1998.
O Texto aborda os seguintes assuntos:
- A atuação da escola na relação com o aluno, onde muitas vezes apresenta uma tendência patologizante, frente aos problemas-dificuldades do aluno.
- Tem por um dos objetivos, chamar atenção para a forma de avaliação no dia-a-dia da sala de aula, bem como a não consideração de um processo de construção gradativa do conhecimento.
- O desprezo da escola a questões fundamentais: métodos de ensino, relação professor-aluno, objetivos e ideologias.
- Na atualidade as crianças estão, cada vez mais cedo, entrando para instituições escolares.
- A pré-escola também é um espaço de construção do conhecimento em que facilita o desenvolvimento da criança, tornando-a, crítica, criativa, autônoma, alfabetizada.
- Na avaliação psicopedagógica a trajetória da criança deve ser considerada, pois a dificuldade, ocasionalmente, surgida pode ter sua origem em uma visão tendenciosa da escola, devido à casos anteriores.
- A forma de avaliação da própria escola reflete como ela mesma se organiza, pedagogicamente, e sua filosofia de educação, bem como seu planejamento.
- O professor não pode considerar somente “o produto final, a palavra ou número colocado ou a cruzinha marcada.” (p.167).
- É necessário compreender o processo mental do aluno e localizar a sua ‘falha’. Um problema de matemática, por exemplo, cabe indagar se a sua leitura foi suficientemente boa, se possibilitou a compreensão, se assimilou o texto, se possui informações básicas que permitam desenvolver tal raciocínio, se foi capaz de articular os dados e informações recebidos, se conseguiu organiza-los e se colocou a resposta no lugar adequado.
- A avaliação da aprendizagem, quando mal conduzida, gera excesso de ansiedade, até tornar-se insuportável ao aluno e, assim, desorganizando sua conduta.
- Os pais e professores devem ficar atentos a fatos que possam talvez, sobrecarregá-la a criança, emocionalmente em suas expectativas, trazendo efeitos negativos e bloqueando as suas reais possibilidades.
- É de grande importância dar atenção especial em sala de aula, não só quando em situações de ensino, mas também quando de avaliação de aprendizagem.
- Na alfabetização, seu processo de desenvolvimento é de construção, o que resulta da interação da criança com a língua escrita e sua apropriação.
- A criança deve ser respeitada dentro do seu ritmo de construção de sua leitura e escrita para que não gere ansiedade exacerbada, que suas dificuldades não estanque o processo.
- A escolha da escola para a criança é indispensável pensar em certos requisitos, tais como: a escola tem a mesma filosofia de educação que a família? é imposta religiosidade sobre a criança na escola? exige a participação e responsabilidade dos pais nas tarefas de casa e no comparecimento à reuniões escolares ou festinhas? a escola em si, é suficiente às necessidades da criança, tanto em seu espaço físico quanto em assistência e acolhida à criança?
- Vale lembrar que, uma escola com faltas de professores, greves a todo o momento, sem relação sólida entre professor-aluno e conflitos em sua administração, terá uma ação também negativa para com o aluno e, consequentemente, influenciando no seu desenvolvimento e aprendizagem.
- Em um diagnóstico é fundamental contextualizar não só o sujeito em sua família, mas também em seu espaço escolar e na sociedade como um todo.
- A escola sempre deve ser analisada em três ângulos: no administrativo, no pedagógico e na relação de sala de aula.
- A sala de aula é um encontro entre professor-aluno, onde o professor deverá dar a todos a mesma oportunidade, mas ao mesmo tempo uma oportunidade também individual, proporcionando ao aluno uma possibilidade de troca, bem como nas dificuldades de aprendizagem.
- É interessante sempre, que o professor aponte traços positivos, valorizando os alunos, assim, também trata-se de um estímulo para o sucesso das atividades.
- O professor sempre deve partir o ensino com base em que o aluno já sabe ou conhece, facilitando a aprendizagem e permitindo ocorrer uma verdadeira operacionalização da realidade, onde se procede de forma coletiva e igualitária.
- Nos últimos tempos, a educação no Brasil tem-se emergido, em sentido genérico, somente nas Universidades, e poucas foram às inovações realizadas em salas de aula de Escolas de educação básica.
(Síntese Categórica elaborada em 2012, UNOCHAPECÓ, São Lourenço do Oeste).
Resenha Crítica do Filme "Bicho de Sete Cabeças"
19/06/2012 18:17BODANZKY, Laís. Filme: “Bicho de Sete Cabeças”. Brasil: Columbia, 2001. 1DVD (ca. 74min), son., calor. Produzido pela Sony Pictures.
O filme, “Bicho de Sete Cabeças” retrata muito bem o dia-a-dia vivenciado nos hospícios ou manicômios, ele mergulha em uma viagem a respeito da forma de tratamento manicomial encarcerado. Este filme retrata a vida de Neto, um jovem de classe média baixa, com 16 anos de idade, anda frequentemente de skate e realiza algumas rebeldias comuns da adolescência, como pichar muro e usar drogas.
Embora eu creia que o uso de drogas e a quebra de valores sociais não se possam ser rotulados como “normais” ou “anormais”, exatamente, é algo muito comum na sociedade, principalmente entre os adolescentes em que a transgressão das regras e normas sociais ganha espaço, diante deste cenário de mudanças e transformações, tanto individuais quanto coletivas e sociais. Dá-lhe certa liberdade pela busca da sua própria individualidade e subjetividade na sua relação com as pessoas e a sociedade em si. “É preciso destruir o velho para criar o novo”1.
A falta de diálogo entre Neto e sua família criara um clima de desconfiança e mal-entendimentos e, mais ainda, o clima é forjado quando seu pai encontra um cigarro de maconha que, por descuido, deixou cair do seu bolso. O relacionamento entre ele (Neto) e sua família consistia numa relação de inimizade.
O fato é que Neto buscava ter mais liberdade, emoções, aventuras, enfim, descobrir o seu mundo ou grupo de inserção social, de acordo com suas identificações pessoais. Enquanto isso, sua família, tomada pelo desvencilhamento e desentendimento da descoberta súbita da determinada situação, infligem de medo e “cuidado”. Medo esse, é causa de exagero no modo de relacionamento da sua família para com Neto – o medo de seus pais é de perderem o controle sobre ele –, e chegando a ponto de interná-lo em um hospital psiquiátrico, um manicômio.
Naturalmente, a família de Neto, em especial seus pais, não procurou conhecer a situação dele, mas dominá-lo antes que tarde. Nem antes de seus pais ficarem sabendo, nem depois, em momento algum tiveram um diálogo satisfatório entre si, que pudessem esclarecer suas realidades individuais para ser possível uma compreensão maior e uma boa relação e, talvez, tentar melhorar.
Entretanto, sua família foi bem objetiva após a descoberta, não houve dúvida em mandar Neto para um hospício com intenção de mudar seu comportamento ou “estado doentio”. No hospício ou manicômio há uma outra realidade por detrás de uma imagem utópica. Um tratamento absurdamente desumano, mas que fazia parte do regime interno, tomado por um sistema de corrupção e crueldade.
Os maus-tratos e a violência eram frequentes. Neto estava submetido à aplicação e/ou ingestão de remédios e medicamentos, e pior, sem nenhuma avaliação ou exame médico referente.
Os apelos de Neto à sua família para que o tirem do manicômio são vistos com “maus-olhos”, como se fosse prova clara de loucura ou psicopatologia, e quando por ventura consegue sair, sofre preconceitos, sem falar nas dificuldades de voltar a viver naquele padrão cotidiano que havia antes, o que complicou a readaptação e contribuíram, em suma, para o retorno ao hospital psiquiátrico e, consequentemente, ao convívio com doentes mentais em estágios avançados de psicopatologia ou enfermidade.
O psiquiatra que tratava Neto e os outros membros da instituição agredia os doentes e tomava até “uísque com bolinha”2. Então, eu me pergunto como um profissional deste gênero exacerbado pode exercer determinada profissão ativamente? Há vigilância no local? Se existe, cadê o órgão ou federação responsável pela referida profissão e/ou instituição? (“eu fico sem resposta” [sic!]).
No hospital psiquiátrico ou hospício, além de todas as barbáries de drogas medicamentais, condições psicológicas precárias e comprometidas, e profissionais impróprios à profissão, também havia o horror do eletrochoque, que conduzia “de até 460 volts”3, sabendo que as descargas aplicadas “causam convulsões e queima de neurônios”4.
Atualmente, as internações de jovens em hospícios ou hospitais psiquiátricos por serem usuários de drogas continuam acontecendo e, comumente, são dopados de medicamentos, não creio que isso deveria ocorrer dessa forma. Outro ponto importantíssimo é o uso de cigarro pelos doentes mentais... “Então o cigarro não é droga?”5. Ou melhor falando, os manicômios ou hospícios estão para tratar ou para entorpecer os doentes?
Elementos afins, tais como os citados aqui, acredito plenamente de que ainda existem no interior dos hospitais psiquiátricos ou hospícios, em seu mais íntimo. As drogas e as doenças psicológicas ou psicopatologias existem, elas estão aí, elas devem ser encaradas com ética, bom senso e profissionalismo.
O ponto-chave, como disse Laís Bodanzky – diretora do filme, é “entender o outro, aceitar o outro, compreender as diferenças”6. Assim, neste sentido, as relações estabelecidas, e principalmente o diálogo e o bom relacionamento, podem fazer grandes diferenças e evitar consequências trágicas em nossa vida. Ou então, queremos passar por experiências parecidas ou semelhantes às de Neto?
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1 = criação metafórica de própria autoria.
2 = citação extraída da entrevista de Luiz Bolognesi, veja: “Referências Bibliográficas”.
3 = citação extraída da entrevista de Rodrigo Santoro, veja: “Referências Bibliográficas”.
4 = ideia extraída da entrevista de Rodrigo Santoro e transcrevida, veja: “Referências Bibliográficas”.
5 = ideia criada com base na entrevista de Luiz Bolognesi, veja: “Referências Bibliográficas”.
6 = citação extraída da entrevista de Laís Bodanzky, veja: “Referências Bibliográficas”.
Referências Bibliográficas:
SANTORO, Rodrigo; BODANZKY, Laís; BOLOGNESI, Luiz. Entrevistas: “Qual é o barato”, por Paloma Klisys. [S.L.], “Bicho de Sete Cabeças”. Disponível em: https://www.educacional.com.br/reportagens/drogas/bicho.asp. Acesso em: 28 de fev./ 2011.
(Resenha Crítica elaborada em 2012, UNOCHAPECÓ, São Lourenço do Oeste).
Relação da Psicologia Social com o Estudo das Ideologias
19/06/2012 18:12Primeiramente, antes de falar sobre a relação entre a Psicologia Social e o Estudo das Ideologias, cabe aqui analisar a primeira, seu carácter como forma de atuação profissional, que no início dela e em seu desenvolvimento individual e empírico, e ao longo de suas teorias codificadas demonstram o quanto não havia “(...) a dimensão social e a dimensão crítica (...)”¹ enraizadas em sua essência. Somente a partir da década de 70 alguns autores começaram a incorporar o conceito e teoria de Ideologia em seus estudos e pesquisas, embora esse fenômeno já estava presente no momento em que se iniciou a pensar sobre a vida em sociedade.
A supervalorização da ideologia atualmente é devido ao fato de nosso mundo contemporâneo estar se baseando cada vez mais acentuadamente numa realidade não-material, em uma linguagem mais verbalizada e com certo simbolismo impregnado. A ideologia é um campo amplo e embarcador de grande complexidade de significados.
Entretanto, a ideologia, em seu sentido positivo (também chamado de neutro), é entendida como cosmovisão, ou seja, um conjunto de valores, ideias, ideais, filosofias ou crenças. Deste modo, é impossível algum indivíduo ou grupo não ter sua própria cosmovisão. Em contrapartida, a ideologia em seu sentido negativo (também dito como crítico), compreende-se ideias distorcidas, de indivíduos ou grupos, que “obscurece” a realidade e/ou engana as pessoas.
Para Destutt De Tracy, ideologia é o estudo das ideias que, naturalmente, são reflexos do cérebro. Já para Lenin e Lukács, a ideologia é entendida como ideias, tais como de um grupo revolucionário. No entanto, para Mannheim, ideologia é tudo o que nós pensamos, pois é impossível não se deixar levar pela situação social em que alguém nasce e vive, identificando com o conhecimento. Como “todo conhecimento é condicionado, assim toda ideologia é condicionada”², o que seria correlacionável à concepção de Marx, onde as ideias de um grupo dominante impõe sobre os outros grupos ou classes sociais.
Contanto, a ideologia pode estar atrelada às próprias instituições, como por exemplo, à escola, às fundações religiosas ou à própria família em si, consequentemente, algo materializado ou simbólico, como forma de manter as relações. O que define se um pensamento ou instituição, possui, de fato, uma ação negativa ou positiva é a forma como essa ação é praticada.
O objetivo da ideologia “(...) seria também a produção e transformação das experiências vitais, na construção de subjetividades (...)”³, pois ela, de certa forma, compõe o homem como individuo. É a partir das subjetividades que constituem nossas relações que, em consequência, são influenciadas na constituição da nossa própria subjetividade.
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¹ = GUARESCHI, Pedrinho A. Psicologia Social Contemporânea. Brasil: 2003, p. 89.
² = GUARESCHI, Pedrinho A. Psicologia Social Contemporânea. Brasil: 2003, p. 91.
³ = GUARESCHI, Pedrinho A. Psicologia Social Contemporânea. Brasil: 2003, p. 92.
(Compêndio elaborado em 2012, UNOCHAPECÓ, São Lourenço do Oeste).
Síntese de Algumas Palestras do "16º Encontro Nacional de Psicologia Social" (em Recife-PE)
19/06/2012 17:43Entre os dias 12 a 15 de novembro, participamos do 16º Encontro Nacional de Psicologia Social, ocorrido em Recife, Pernambuco. Lá, durante o evento, fizemos parte de várias palestras, dentre as quais, algumas estavam relacionadas a questões de desenvolvimento e aprendizagem, indisciplina escolar e práticas de observação voltadas ao público infantil, destacando a importância e experiências de estágio supervisionado na compreensão das relações entre professores, alunos e escola.
Algo que tem chamado muito a atenção é a forma de contextualização inerente à escola frente à observação, buscando visualizar a mesma por duas óticas: a escola normatizada, hierarquizada, padronizada; e a escola em construção, a partir de conteúdos trazidos pelos seus ‘atores’: alunos, professores, funcionários. Ou seja, articulando aos estudos da Análise Institucional da disciplina de Psicologia Social, deste semestre, podemos ver dois pólos: aquele das forças instituídas, e aquele das forças instituintes, onde ambos estão em movimento contínuo, buscando tanto se conservar como tal, quanto dar espaço para novas construções.
De acordo com um teórico citado - Dayrell (1996), as escolas criam uma forma própria de cada uma, de inter-relações, as quais movimentam-se, constroem jeitos de tornar escola, onde esta fica marcada pela apropriação do controle e pelas resistências na luta contra o poder dominante. Assim, olhar a escola na visão sócio-histórico-cultural significa compreendê-la no fazer cotidiano, nos conflitos, na reprodução do velho, na possibilidade de construção do novo, no resgatar do papel ativo e vivo da escola e seus atores.
Uma das constatações apresentadas é que a indisciplina é um fenômeno educacional, hora apresentada pelos professores, hora incorporada pelos adolescentes. Fator esse, evidencia a reprodução social e o lugar posto pela sociedade aos alunos. Com isso, constatando a existência simultânea tanto de resistência a este contexto por parte dos adolescentes, quanto a utilização desse “contexto” como possibilidade de conviver em um grupo e expressar-se. Muitos deles entendem isso como o único canal possível de exercitar o poder sobre as relações existentes na escola. Poder esse que permita incorporar, ser e denunciar.
Neste sentido, o âmbito da educação no Brasil revela o descaso político ao longo do tempo, realizando uma educação diferenciada para as pessoas em situação de pobreza, e respondendo às necessidades socioeconômicas vigentes, conforme cita Patto (2009). Assim, foi por meio da intervenção que tornou-se possível retratar algumas das relações existentes em escola, demonstrando ‘as diversidades de adolescências’, além de realizar algumas investigações a respeito do papel do psicólogo educacional. Também, na compreensão dessas relações veio à tona um cotidiano com um mínimo de diálogo e com resoluções de conflitos que se procediam através do ‘abuso do poder e da punição’.
No decorrer da história do Brasil, a escola vêm sendo violada e renegada, configurando, muitas vezes, em um descaso institucionalizado pelo Estado. Se baseando em Patto (2009), o período colonial foi marcado pela ausência da escola, apenas tratada pelos Jesuítas que se utilizavam da alfabetização como maneira de evangelização. A autora fala, ademais, que no período imperial a escola continuou a ser marcada pela ausência, com exceção dos filhos de famílias burguesas que detinham escolas próprias e davam prosseguimento no estudo em países europeus.
Entretanto, depois do século XX, houve a construção de redes escolares, e somente no final da ditadura militar que a escola passa a ser reinventada pela perspectiva de direitos, possibilitando o acesso a todos, permanência e qualidade. Antes disso, a escola era vazia, com grande índice de crianças fora da mesma, e agora a mesma passa a ser cheia de alunos, porém marcada pelo processo de exclusão no interior da própria escola, propondo-se a ocupar o tempo livre das crianças e adolescentes, mas não se modifica para acolhe-los, mantendo-se os mesmos aspectos padronizados e normativos. (PATTO, 2009).
Todavia, como fala Dayrell (1996), para não olharmos sob um vértice reducionista, em relação à escola, torna-se necessário observá-la por dentro de si mesma para ser possível compreender a mesma como que perpassa por questões histórica, social e cultural. Dayrell (1996, p. 137) cita: “[...] aprender a escola como construção social, implica assim, compreende-la no seu fazer cotidiano”.
Contudo, ocorreram alguns debates, discussões e explanações breves a respeito de várias questões, como por exemplo: Quais os modos de ser jovem destes sujeitos? Qual o sentido da escola para esses jovens? Como estas pessoas vivenciam suas experiências nesses espaços?
Algumas contextualizações seguintes, falavam a respeito de que para grande parte dos professores essas perguntas não faziam sentido algum, pois a resposta da escola já está dada, pronta, se sustentando em teorias e argumentos provenientes de Dayrell (1996), onde os alunos independem de sexo, idade e condições sociais, vistas essas como não determinantes no processo de desenvolvimento-aprendizagem.
Os alunos, por sua vez, de acordo com essa concepção de escola deviam ser entendidos de forma igual, e a escola como sendo uma organização linear, estática, de grade e currículo igualitários entre todos, padronizadamente, dentro de uma tentativa de homogeneizar a instituição escolar e seus membros: alunos, professores, funcionários. Essa homogeneização reduz a diversidade de individualidades e as práticas escolares com seus saberes, algo que se deve resistir para que não se reduza a totalidade das dimensões humanas.
Por fim, questiona-se: para que serve a psicologia educacional? Segundo Bock (2004), esta deveria ser capaz de denunciar as péssimas condições de vida como geradoras de desigualdades, onde muitas vezes levam a criança e/ou o adolescente a acreditar que são responsáveis pelos seus fracassos escolares. Os psicólogos como agentes educacionais não podem manter-se ingênuos e nem mesmo esquecer dos objetivos da sua prática psicológica em âmbito escolar.
Resumo de "Ética Profissional e Psicologia Sócio-histórica"
19/06/2012 17:37LIEBESNY, Brônia; MORTARA, Patrícia M. G. C. Ética Profissional e Psicologia Sócio-histórica. In: BOCK, Ana Mercês B. (Org.). “A Perspectiva Sócio-histórica na Formação em Psicologia”. Petrópolis - RJ: Vozes, 2003.
Concebendo o humano como um ser social, que estabelece relação com outros seres, que transforma e é transformado pelo ambiente que os-cerca. Essas transformações permitem o desenvolvimento da consciência e da sua própria existência como sujeito, as quais têm bases reais, expressando-se por um conjunto de ideias e concepções políticas, jurídicas, morais, religiosas e filosóficas. Considerando o sujeito em sua totalidade, onde se constitui na sua inserção no grupo social, em sua realidade em que está inserido, e através de uma atividade construída.
Para que haja a compreensão do sentido da ação do homem, é preciso concebê-la, suas ações, como atreladas a um processo de desenvolvimento histórico, que existe um passado e um futuro, avaliando dentro de um contexto circunstancial que se produziu. Nesta perspectiva, o saber psicológico se concretiza em conhecer a subjetividade humana nas atividades profissionais, implicando na construção de projeto profissional com compromisso em desenvolver a crítica sobre a realidade na qual atua e constitui os objetivos e práticas para sua realização.
Desde a Antiguidade, o homem vem adquirindo e construindo certos costumes de convivência, de acordo com a época histórica e o contexto social de cada cultura. Esses costumes servem para a manutenção dos grupos sociais, carregando valores que apontam deveres, e que concebem como adequados aos seus objetivos individuais e coletivos, definindo como regra, norma e/ou lei, cujas são determinadas pelos interesses e necessidades de tal sociedade, principalmente de grupos dominantes.
O homem está inserido em um conjunto de multideterminações, constituídas a partir de seu grupo social, desde a infância, contribuindo então, para a construção de sua identidade como sujeito. As regras morais e sociais têm o objetivo de regular as relações entre os indivíduos para garantir a ordem social e preservando a sociedade em seu conjunto. A Psicologia Sócio-histórica afirma que as regras morais não são únicas, mas próprias de cada grupo social, expressando seus interesses sociais e/ou ideológicos, no entanto, aquelas que predominam são as da classe dominante.
A moral e a ética são inseparáveis, a moral é o conjunto de princípios que norteiam as ações enquanto a ética é a reflexão crítica sobre esses princípios (RIOS, 1995), pois quando refletimos sobre nossas ações, diante desse conjunto de princípios norteadores, estamos no terreno da ética. A ética busca os fundamentos dos valores que determinam uma moral, com o objetivo de compreendê-la a partir de sua gênese e da finalidade que ela propõe para a sociedade em que se constituiu.
A reflexão sobre tal faz aumentar o grau de consciência sobre a liberdade e a responsabilidade do sujeito em relação aos seus atos. Não existe liberdade fora do tempo e do espaço historicamente constituído pelo grupo, ou seja, a liberdade também tem limites. O sujeito é livre por ter poder de escolha e, também, por se responsabilizar pelos seus atos. Assim, o sujeito é livre porque tem consciência das determinações que constituem o agir humano que, consequentemente, pode transformá-lo.
Entretanto, o comportamento do sujeito é ético quando age conscientemente, e esse ato de reflexão consciente resulta das relações sociais que se insere. Enquanto isso, a sua identidade é constituída no seu processo de socialização, onde é possível obter transformação a partir disso. Na construção do comportamento ético, o sujeito informa-se sobre a situação, consulta normas estabelecidas, reflete sobre essas normas, toma decisão para agir e analisa seus próprios atos.
Para a Psicologia Sócio-histórica, a identidade de um indivíduo é construída também a partir do outro, pois é na relação social que se constroem os valores e os limites das ações que concretizam esses valores. Através do comportamento reflexivo concretizamos ações sobre a realidade, as quais devem se basear no interesse coletivo e no compromisso com a prática em si.
A reprodução e utilização não-reflexivas de conhecimentos e instrumentos por grande número de profissionais psicólogos, têm criado uma imagem que direciona-se novos candidatos à profissão com base na visão de que o psicólogo é onipotente, capaz de resolver problemas e sofrimentos humanos com a habilidade de conhecer o mundo interno e dito verdadeiro, servindo como um modelo subjetivo para cada estudante de psicologia. Falar em psicologia também implica referir-se à ética do psicólogo, a qualidade de categoria que se quer construir e aos projetos que a psicologia tem construído.
A ética profissional se referencia ao conjunto amplo de valores que regem a sociedade na qual se institui, sendo um conjunto de princípios que norteiam a prática profissional, falando do comportamento profissional nas relações com aqueles a quem é oferecido determinado serviço, também com outros profissionais e com a sociedade em geral. A liberdade, individualidade e consciência no âmbito profissional são próprias do conjunto de saberes e valores construídos pelo próprio profissional em seu percurso. Cada profissional é responsável por sua construção.
A internalização das regras morais dos profissionais resulta da reflexão e do posicionamento do sujeito em relação aos valores. O código de ética não pretende trazer respostas prontas, mas possibilitar a reflexão e tomada de posição do profissional, que implique na ação e na responsabilidade por suas consequências, como uma construção social objetiva que passa a construir a subjetividade do profissional.
O objetivo da psicologia é possibilitar a promoção de saúde, vinculada em uma condição de saber e prática, de modo estar comprometida com a sociedade na qual se constrói e concretiza, em um caráter coletivo. A ação profissional tem uma intencionalidade que se baseia na visão de homem ativo, em promover a possibilidade de apropriação, pelos sujeitos sociais de sua condição de saúde. Desta maneira, o psicólogo transforma a realidade de forma intencional, como resultado dos conhecimentos teóricos e técnicos da teoria adotada e do projeto político que se propõe a concretizar, a partir de seus valores e das condições e necessidades da sociedade, com caráter ético.
Contudo, deve-se possibilitar a re-significação e construção de novos sentidos e ações que configurem um compromisso profissional que estabelece a relação entre moral, ética e profissão em psicologia, e atendendo as demandas na direção que propicie saúde a toda a sociedade, não somente parte dela.
(Elaborado em 2012, UNOCHAPECÓ, São Lourenço do Oeste).
As Contribuições da Etnografia e da Cartografia como Métodos de Pesquisa em Psicologia
19/06/2012 17:16Para explicar as contribuições da Etnografia e Cartografia, com base nas Práticas de Observação realizadas no segundo semestre do curso de Psicologia, cabe a nós, enquanto acadêmicos na produção do conhecimento, analisar e examinar de forma minuciosa ambos os métodos, para que seja possível assimilar e compreender cada um dos quais, dentro de sua respectiva lógica.
A Etnografia nada mais é que a coleta de dados de maneira sistemática e interativa entre os mais variados casos, assuntos ou eventos a serem tratados e explanados em suas especificidades subjetivas, de certo modo, permitindo atrelar informações fragmentadas e não-fixas, e dando a possibilidade de interrelacioná-los, diante da observação em questão.
Na observação, o etnógrafo faz uso atento da percepção e aprende se entrosando e interagindo em um processo dinâmico com a realidade do contexto e os sujeitos e/ou objetos que permeiam essa realidade, levando em conta, em suma, a cultura predominante destes sujeitos como parte integral do todo ou de sua maioria. Essa realidade é caracterizada em observações nos locais naturais, comuns do cotidiano dos sujeitos ou objetos observados.
Os fenômenos sociais são, assim, apresentados ou justificados em razões de suas relações com a realidade ou lugar em que estão inseridos, para que, de fato, seja possível entender e compreender suas manifestações, cujas são frequentemente coletivas.
Em suma, a etnografia é um método utilizado para recolher dados precisos, baseando-se em contatos com a realidade onde se encontram inseridos. Assim, analisando os diferentes modos de organizar essa realidade.
Já a Cartografia, busca seguir um processo, empenhando-se em estudá-lo e analisá-lo. Isso se faz muito presente no que diz respeito ao colhimento de dados, em que o cartógrafo tem de dar o máximo de atenção possível às informações e, podendo essa, ser focada em determinada situação ou elemento, ou genérica, em que a observação se faz de forma desfocal e dispersa, flutuante sobre o ambiente (“prestar igual atenção a tudo” [KASTRUP, 2007, p. 16]).
A desfocalização possibilita a percepção de todo um aparato que ocorre no ambiente, não somente os assuntos conexos e sincronizáveis, mas também muitos outros que ocasionalmente estão incompletos e sem conexões “visíveis”.
A medida do cartógrafo está baseada na consideração relevante dos dados e informações obtidos na observação como um todo, dando ênfase em absorção do conteúdo e seu sentido sem deixar de tomar notas por tendências de irrelevância de modo ou expressão influenciadas de si próprio. Neste caso, quando em observação flutuante ou desconexa, a atenção pode ser guiada por caracteres no trabalho prático cartográfico, como o rastreio, o toque, o pouso e o reconhecimento atento (KASTRUP, 2007, p. 18).
O Rastreio é algo como estabelecer um objetivo, conduzir transformações em seus movimentos processuais. Por conseguinte, o Toque trata-se de uma sensação rápida, generalizando. Contanto, o Pouso significa certa estabilidade na percepção, enquanto isso, o ambiente se “bloqueia”, mudando então, o movimento tensional do cartógrafo. Neste sentido, o Movimento Atento caracteriza-se como um novo pensamento, uma nova visão ou reconhecimento cognitivo do olhar do próprio cartógrafo.
A cartografia é acompanhada de um amplo processo de formas, de um meio onde constatamos a existência de um ambiente natural radicalmente diferente, uma história diferente, com situações de diferentes culturas.
Referências Bibliográficas
KASTRUP, Virgínia. revista: “Psicologia e Sociedade”. O Funcionamento da Atenção do Cartógrafo. Brasil, Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2007.
ROLINIK, Suely. Cartografia sentimental: transformações contemporâneas do desejo. São Paulo: estação liberdade, 1989.
(Artigo elaborado em 2012, UNOCHAPECÓ, São Lourenço do Oeste).
Resenha de "A Política de Saúde Mental Infanto-juvenil: seus percursos e desafios"
19/06/2012 17:14AMSTALDEN, Ana L. Ferraz; HOFFMANN, Maria Cristina C. Lopes; MONTEIRO, Taciane P. Maia. A Política de Saúde Mental Infanto-juvenil: seus percursos e desafios. In: RIBEIRO, Edith Lauridsen; TANAKA, Osvaldo Yoshimi. Atenção em Saúde Mental para Crianças e Adolescentes. São Paulo: Hucitec, p. 34-45, 2010.
A Política é resultante de um processo histórico e de construção ou regulamentação na garantia e proteção dos direitos humanos indispensáveis, compreendida como conjunto de princípios, diretrizes e normas que regulamentam as práticas sociais e a gestão dos bens públicos, em consequência do reconhecimento e da afirmação dos direitos precisos e das necessidades dos sujeitos, envolta de bens individuais e coletivos fundamentais.
Atualmente, a Política de Saúde Mental Infanto-Juvenil implementada no Brasil, busca superar a prática institucionalizante e de cunho histórica baseada numa lógica de higienização e num ideal de proteção que reforçaram o abandono e a exclusão de crianças e adolescentes. Saúde mental é algo que vai muito além da ausência de transtornos psíquicos, como por exemplo, o bem-estar subjetivo, a autoeficácia, a autonomia, a competência, a autorrealização do potencial intelectual e emocional do indivíduo como um todo. Com isso, pessoas com transtornos mentais têm necessidades de reabilitação e reinserção social que devem ser propiciadas como parte integrante de seus tratamentos.
Pesquisas apontam que fatores psicossociais: pobreza, vivência de conflitos e desastres, doenças físicas graves, baixo nível de instrução, privação ou ausência de domicílio e outros mais, afetam a saúde mental de forma considerável, possibilitando o desenvolvimento de transtornos mentais. Nota-se também maior tendência de depressão em mulheres do que em homens, isso pode estar ligado às cargas de estresse, à maior responsabilidade doméstica e familiar ou às situações adversas de violência doméstica e sexual, muitas vezes ficando submissas aos homens.
Os transtornos mentais da infância e da adolescência são: os transtornos do desenvolvimento psicológico, os quais se caracterizam pelo retardamento do desenvolvimento de funções como a fala e a linguagem ou por transtornos globais do desenvolvimento, como o autismo; e os transtornos de comportamentos e emocionais, que incluem os transtornos hipercinéticos, de atenção e hiperatividade, distúrbios de conduta e transtornos emocionais da infância. Muitos dos transtornos encontrados em adultos podem ter se originados na infância, como a depressão, por exemplo.
Em função do fato de a infância e a adolescência serem fases do desenvolvimento, é muito difícil traçar claros limites entre fenômenos que fazem parte de um desenvolvimento dito “normal” ou “anormal”, em específico. Muitos dos casos, os diagnósticos foram preenchidos por pais e professores, e não conjunto ao indivíduo em uma atenção especial e exclusiva, apresentando muitas vezes uma visão de “psicopatologização” de fenômenos devido essa falta de visualização de caso e atenção adequada para as precisas análises. Identificamos os sujeitos que não se adaptam às normas e rotinas escolares, mas não identificamos as grandes cargas de atividades, cobranças e expectativas quanto ao desempenho de aprendizagem, que muitas vezes contribui para o sofrimento psíquico.
Além disso, também há o consumo de álcool e outras drogas. Diversos levantamentos apontam aumentos e mudanças nos padrões de consumo de álcool e outras drogas entre a população infanto-juvenil. Estudos brasileiros realizados apontam à diminuição da idade média de início de consumo de álcool para cerca de doze anos de idade. Outros estudos similares com crianças e adolescentes em situação de rua, na faixa etária entre dez a dezoito anos de idade, também se constatou consumo intenso de álcool e outras drogas. Raramente o uso de drogas foi mencionado como motivo para o afastamento da família, comumente, tem se intensificado após a situação de rua.
Esses dados traduzem a importância do papel das famílias como agências protetoras ao uso de drogas, e também do investimento em capacitações e formações de profissionais de saúde que atuem em diferentes locais. Vale mencionar aqui, o uso da pedra que propicia e alimenta situações de vulnerabilidade social, quando seus usuários ficam mais expostos à violência e à prostituição.
As características gerais das políticas públicas em saúde mental devem ser baseadas na ética e no cuidado, pois a criança e o adolescente devem ser tomados como sujeito, implicando a noção de singularidade e de direitos, como o direito ao cuidado. É de direito de todo indivíduo que chegar a uma unidade de saúde mental ser acolhido, ouvido e receber resposta: assumindo o tratamento ou encaminhando-o assistencial e implicadamente ou ainda, fazendo-o entender e aceitar a questão em si quando não há necessidade de tratamento.
No entanto, deve-se incluir o trabalho com os demais serviços e equipamentos disponíveis no território, e indo além de intervenções técnicas e terapêuticas como uma tarefa constante e dinâmica. Toda ação de cuidado no campo da saúde mental deve ser intersetorializada, atendendo as condições daqueles indivíduos que precisam, além do serviço de saúde mental, de outras formas de assistência para estimular seu desenvolvimento: escola, esporte, lazer, cultura. Desta forma, havendo a noção de território, que é o local psicossocial do sujeito, atravessando em sua experiência pelas instâncias pessoais e institucionais nas quais ele está inserido.
Contudo, devem-se levar em conta as instituições que visam a saúde mental, como os Centros de Atenção Psicossociais, os Núcleos de Apoio à Saúde da Família e os Centro de Convivência e Cultura, cumprem papel importante na organização da rede, dão suporte às situações de crise, desenvolvem ações de promoção e reabilitação da saúde mental e propiciando possibilidades de (re) inserção social. Assim, a organização e articulação da rede de saúde mental e partir desta, ampliada, envolvendo os demais setores das políticas públicas voltadas às crianças e adolescentes, e reconhecendo de que nenhum serviço, instituição ou ação isolada pode fazer frente e responder totalmente à complexidade dos fenômenos envolvidos e às necessidades de cada indivíduo.
(Resenha elaborada em 2012, UNOCHAPECÓ, São Lourenço do Oeste).
Resumo e Análise de "A Mente Vencendo o Humor: mude como você se sente, mudando o modo como você pensa"
19/06/2011 21:07GREENBERGER & PADESKY. É o Pensamento que Conta (Cap. 2). In: GREENBERGER, et all. A Mente Vencendo o Humor: mude como você se sente, mudando o modo como você pensa. Porto Alegre: Artmed, 1999.
O nosso estado de humor é, naturalmente, definido pelo pensamento. Um pensamento de interpretação de um evento, por exemplo, pode dar origem a estados de humor variados. Estes estados de humor são interpretados sempre de uma forma particular, de modo que esta interpretação poder-se-á vir a causar momentos de sofrimento. Desta maneira, é sempre interessante observar em que estamos pensando e qualidade destes pensamentos, antes de realizar qualquer ato.
Uma mesma situação pode criar estados de humor diferentes em cada indivíduo, e/ou mais: a cada interpretação. No entanto, os estados de humor, além disso, concernem determinados pensamentos adicionais, os quais dão apoio e fortalecem o humor. Exemplo disso é o primeiro Registro de Pensamentos Disfuncionais, em que trata-se de um caso resultante em estado de humor preocupado, ansioso.
Nesta perspectiva, indivíduos que sentem esse estado de humor vêem perigo em todo local; assim como sujeitos com raiva ficam pensando a respeito do quanto foram destituídas de si, prejudicadas, e sujeitos com humores de tristeza pensam e refletem sobre o quanto foram infelizes e maltratados. Quando acabamos por experimentar estados de humor de expressão mais intensa, ficamos mais propícios a distorcer ou deturpar informações que vão contra nossas concepções e crenças pessoais.
Isso não significa ser algo errado, mas o ideal seria manifestar estados de humor mais equilibrados. Quando um indivíduo experimenta um estado de humor intenso ele acaba por dar, durante seu agir, uma resposta semelhante à qual ele já havia em mente, de modo a não diferenciar dos conceitos e crenças pessoais, por assim dizer, de sua conclusão. Além do mais, deve-se levar em conta também que diminui consideravelmente chances de retroalimentação positiva.
Em alguns momentos, tendemos a desempenhar nossos pensamentos e comportamentos de maneira desconexa entre si, embora ambos permanecem extremamente ligados. Esse caráter normalmente é o motivo pelo qual consideramos difícil realizar duas atividades ao mesmo tempo. No entanto, nossas crenças e expectativas pessoais afetam, de uma forma ou de outra, nosso comportamento. Quanto mais acreditamos que temos capacidade de realizar algo, mais provavelmente tentaremos realizar e ser bem-sucedido na prática.
Outros fatores que influenciam o comportamento são, os chamados, pensamentos automáticos; que tratam-se de palavras e imagens que surgem em nossas mentes ao longo do dia, enquanto estamos em atividade. Contanto, além destes há também as crenças que estão profundamente arraigadas, e que influenciam tanto nossos padrões de comportamento quanto os próprios pensamentos automáticos.
Também, é importante lembrar que nossos pensamentos causam reações físicas. Algumas pesquisas têm buscado demonstrar o quão nossos pensamentos, atitudes e crenças, tem sobre nossa saúde. Há pessoas em que são mais propensas à determinados estados de humor do que outras, e isso deve-se à questões biológicas, geneticamente herdadas e/ou provenientes do meio contextual, construídas socialmente.
Mesmo sabendo que nossos pensamentos influenciam o humor, o comportamento e reações físicas, vale lembrar que o chamado “pensamento positivo” não é a solução para os problemas cotidianos. É necessário fazer-se mudanças nos pensamentos e mudanças físicas comportamentais ou ambientais, as pessoas só conseguem superar a ansiedade e outros transtornos a partir do momento em que as mudanças nos pensamentos são acompanhadas de mudanças no comportamento, baseando-se na evitação.
Análise do Transtorno Depressivo:
1 – Cognitivo = Treinamento de Assertividade. Porque faz com que o paciente aprenda, que se possa aumentar o prazer e a auto-estima, praticando comportamentos assertivos fora das sessões.
2 – Cognitivo = Solução de Problemas. Porque torna-se disponível uma diversidade de respostas efetivas para que possa lidar com uma situação problemática.
1 – Comportamental = Automonitoramento. Porque realiza-se o monitoramento dos sentimentos, emoções, etc., do paciente, de maneira que este possa monitorá-lo.
2 – Comportamental = Programação de Atividades com Previsão de Prazer e Habilidade. Porque permite com que o paciente possa realizar uma programação de atividades com uma estimativa de quanto prazer e habilidade espera-se obter em cada qual.
Referências Bibliográficas:
FEILSTRECKER, Natalia. et all. Técnicas Cognitivo-Comportamentais. In: CAMINHA, Renato. et all (Org.). Psicoterapias Cognitivo-Comportamentais: teoria e prática. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003.
Análise do Transtorno de Ansiedade Generalizada:
1 – Cognitivo = Inoculação do Estresse. Porque se realiza o treinamento do paciente para vivenciar antecipadamente uma situação extressante.
2 – Cognitivo = Analise A> B> C. Porque ajuda o paciente à avaliar seus pensamentos de forma sistemática, de modo que este possa diferenciar entre uma apreciação realista e uma apreciação distorcida.
1 – Comportamental = Técnicas de Relaxamento. Porque é uma das melhores técnicas para contribuir com o cliente e possibilitar que o mesmo permita-se relaxar por si, diminuindo a ansiedade.
2 – Comportamental = Dessensibilização Sistemática. Porque o paciente é lavado à um bom grau de relaxamento, quando é exposto por visualização ou ao vivo, aos estímulos ou situações temíveis.
Referências Bibliográficas:
GUIMARÃES, Suely S. Técnicas Cognitivas e Comportamentais (Cap. 13). In: BERNARD RANGE & COLS. Psicoterapias Cognitivo-Comportamentais: um diálogo com a psiquiatria. 2ª Ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.
(Resumo e Análise elaborados em 2011, UNOCHAPECÓ, São Lourenço do Oeste).
Resenha de "A Psicologia em 'História da Loucura' de Michel Foucault"
19/06/2011 20:40SILVEIRA, Fernando de Almeida; SIMANKE, Richard Theisen. A Psicologia em História da Loucura de Michel Foucault. In: Revista de Psicologia. Rio de Janeiro: Fractal, v. 21, 2009.
Foucault, em seu livro História da Loucura, investiga as possibilidades de existência da Psicologia, da Idade Medieval à Modernidade, enquanto saber que se desenvolve envolta da constituição do sujeito louco, em decorrência do Renascimento, compreendendo como algo impensável durante esses períodos históricos.
No Renascimento, a loucura é vista como uma expressão associada a forças místicas do sujeito, bem como do sobrenatural, onde o louco apresenta-se como o revelador das contradições sociais ou das verdades divinas, de acordo com uma concepção de uma medicina arcaica e superficial, transpassada por ameaças da fome, da tentação, da guerra e de problemas sociais.
Em seguida, esse momento foi se modificando gradativamente, em decorrência do humanismo, tal como de Brant, Erasmo e Calvino, onde essa loucura era proveniente da razão com base em uma reflexão crítica, erigindo uma prática discursiva de que a loucura teria sua origem no próprio homem, de acordo com seus comportamentos de conduta, organizados ou não, e não como efeito de um mistério oculto, como atribuído anteriormente.
Já no classicismo, nos séculos XVII e XVIII, houve a invenção institucional de casas de internamento, bem como, por exemplo os Leprosos, em Paris, que havia um grande número em termos quantitativos. Os internamentos ocorriam de várias maneiras, como por meio de cartas régias, encaminhamentos policiais, por solicitações e entre outras formas.
Dentro dessas casas de internamento haviam indivíduos de várias classes e encargos sociais: pobres, desempregados, criminosos, prisioneiros políticos, prostitutas, usurários, sodomitas, crianças órfãs, mulheres viúvas, ateus, vagabundos, epilépticos, senis, alquimistas, blasfemadores, sacrílegos, regicidas. Apenas 10% eram internados por insanidade.
Ou seja, tratava-se de um depositário social para descartar, através da higienização social, as pessoas minoritárias e discriminadamente excluídas, o que de fato incluía não somente portadores de alguma patologia ou transtorno mental, mas também as pessoas não aceitas pela sociedade, vistas como “anormais” por não seguirem o mesmo padrão vigente.
Neste frame, como um sujeito desses, que fora arrancado da sua convivência com o social e aprisionado em um sistema manicomial, sem qualidade alguma de vida, poderá encontrar ou ter possibilidades para se recuperar ou viver uma vida mais saudável e melhor? Isso demonstra claramente como sendo uma forma pela qual se busca estabelecer uma relação de poder, nota-se através do isolamento para com as pessoas minoritárias da sociedade.
Com o passar dos séculos, uma nova sensibilidade social foi se instalando com o banimento da loucura e sua imaginação medieval, solidificando o conhecimento científico, onde a loucura passa a ganhar uma nova conotação, não exatamente como verdade já dotada, nem mesmo dentro de um molde psicológico.
Mesmo mais tarde, a exclusão e o isolamento ainda havia, bem como as casas de internamento. A prática de internamento, embora ainda se configurasse em ambiente alienante, ocorreu uma reconfiguração “da ética” e “da organização”, estabelecendo novas normas de integração social, dentro dessa experiência psicopatologizável.
Essa reconfiguração deu espaço para uma “ética” onde o sexo estava diretamente associado às mulheres “libertinas”, às prostitutas, aos devassos e aos indivíduos portadores de doenças venéreas, condenando a conduta desregrada. Nesta lógica, o internamento, além de terapia passa a ser também um castigo na “purificação” das almas e a “cura” dos corpos.
Uma higienização, a qual as mulheres “libertinas”, os portadores de doenças venéreas e entre outros, eram tidos como “impuros” por suas relações com a sexualidade e/ou a liberdade de pensamento frente às proibições religiosas e políticas, e atravessando por uma ótica moralizante de que essas pessoas eram desregradas, como causa de tais consequências. Um Absurdo isso.
Com isso, há a invenção de novas concepções relativas à sexualidade e ao amor – ao profano e ao sagrado. A psicopatologização dessas condutas, muitas vezes vista como “louca”, a partir desta correlação da loucura aos discursos contra-sensuais passou a ser reconhecido como permeados de falha, erro ou descompasso do entendimento do sujeito, do que é moral ou socialmente “adequado”.
A loucura como erro e/ou falta, alavancou as bases dos saberes psiquiátricos e psicológicos, pela prática discursiva e social do internamento, abrindo caminho para os estudos desses comportamentos enquanto anomalias psicológicas. Pois o internamento, inicialmente, acontecia pela solicitação de familiares, de párocos, do tenente policial ou do rei, sem nenhum laudo pericial médico, se necessário ou não.
Isso, em meu ponto de vista, talvez justifique a quantidade de pessoas não insanas presentes nas casas de internamento, como se, infelizmente, estivessem “doentes”, enquanto poucas delas eram, factualmente. É neste espaço e contexto que a jurisprudência da alienação torna-se indispensável para o conhecimento prévio, o qual emerge uma psicologia das debilidades mentais, ou como a-chamamos, – a psicopatologia.
Em sucessão, autores como Voltaire, conceituam a loucura como provinda do corpo, não da alma, tal como disse Voltaire, a loucura é “doença dos órgãos do cérebro”, como maneira de proteger a alma, pois a loucura estaria relacionada aos distúrbios do organismo que impedem a percepção “superior” da alma. Como se o corpo fosse submisso à alma.
A demência, tida como uma manifestação mais típica da loucura, é a qual perturbaria a “alma racional”, de acordo com Willis, encerrando-se no corpo pela existência de um elemento misto, - a “alma sensitiva”, que veicularia os poderes intermediários e mediadores da imaginação e da memória. Assim, forneceria impressões sensíveis na produção das emanações do espírito ou alma, enquanto a “alma corporal” residiria no cérebro, em espaço orgânico e funcional, formada pelos espíritos animais.
Desta forma, a demência seria fruto de perturbação do cérebro e dos espíritos, ou de ambos ao mesmo tempo. Aqui surgiria também outras formas, tais como o frenesi, a idiotia, a imbecilidade e o disparate, e elementos afins. O que dá provas concretas, segundo Foucault, sobre a possibilidade de inexistência da Psicologia no classicismo.
Estamos certos ao afirmar que não havia ainda tratamento psicológico propriamente como conhecemos hoje utilizado no âmbito profissional da psicologia. Os procedimentos que existiam eram, como por exemplo, tratar um louco com chá amargo, como forma de trabalho terapêutico, misturava-se corpo e alma, não levando em conta o método empírico de fazer ciência. Eu me pergunto: Isso surtiria algum efeito biológico no organismo? Teria, o chá amargo ou algo afim, o poder de curar um louco ou uma doença qualquer?
Contanto, mesmo antes da Revolução Francesa já se notava uma ‘individualização’ da loucura, como na redução e limitação dos internamentos, liberando alguns do internato, enquanto os loucos ainda permaneciam e, dessa vez descaradamente, acorrentados, em sua maioria.
Assim, encerrava-se a fase do internamento, de acordo com a “Declaração dos Direitos do Homem”, promulgada pela Assembleia Nacional Constituinte da França, em sua prerrogativa de não deter ninguém a não ser nos casos da lei. Enquanto isso, os loucos internados passaram a ser mantidos mediante averiguação de juiz e laudo médico pericial que ateste determinada loucura.
Todavia, somente a partir disso, percebemos que surge então, uma psiquiatria positiva de análise e identificação da loucura, por parte de médicos peritos, diferentemente do que realizava-se antes. Também aparecem propostas de internamentos não totalmente restritos de sua liberdade, com administração de terapia para sua “plena” recuperação, onde o controle social exercido sobre o louco passou a ser um tanto maior.
Contudo, ao que me consta, atitudes de controle social para com os “loucos” continua fortemente impregnadas em locais de internamento até nossos dias, onde os sujeitos portadores de doenças ou transtornos mentais são violentamente mal-tratados e em vida de crueldade. Além de outros fatores, como a discriminação e a exclusão social, sem condições alguma de vida, e muitas vezes sem poder, ao menos, estar livre de torturas.
(Resenha elaborada em 2011, UNOCHAPECÓ, São Lourenço do Oeste).
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"Evasão escolar" no Ensino Médio em um município do Oeste de Santa Catarina
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